Siri, o amigo de Bannon e Salvini, que pode fazer ruir a coligação em Itália

Salvini tem que decidir, esta quarta-feira, se abre uma crise no governo e segura o subsecretário de Estado acusado de associação mafiosa e de receber subornos das eólicas ou se, por outro lado, o deixa cair
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Desde que, há um ano, o Movimento 5 Estrelas de Luigi di Maio e a Liga de Matteo Salvini se juntaram para governar Itália, muitos se questionaram sobre o tempo que essa coligação altamente improvável iria aguentar. Ao longo destes quase 12 meses, o fiel da balança foi o primeiro-ministro Giuseppe Conte, um tecnocrata, que sempre resistiu a tomar um dos lados. Até à quinta-feira passada. Altura em que o chefe do governo italiano resolveu dizer basta ao chamado caso Siri. Este diz respeito ao subsecretário de Estado das Infraestruturas e dos Transportes, Armando Siri, também senador, pela Liga.

Siri, de 48 anos, é acusado de ter recebido um suborno de 30 mil euros de um empresário ligado às eólicas, Vito Nicastri. Conhecido por alcunhas como "o homem do vento" ou "o rei das eólicas", Nicastri encontra-se preso e a procuradoria de Palermo, na Sicília, pede para ele uma pena de 12 anos de cadeia por associação mafiosa. Segundo a agência Ansa, Nicastri tem ligações ao fugitivo N.º 1 da Cosa Nostra Matteo Messina Denaro.

"Vou inscrever na ordem do dia do próximo Conselho de Ministros a minha proposta de revogar a nomeação" de Armando Siri, anunciou Giuseppe Conte, na quinta-feira, numa declaração à imprensa. "Mas isso não quer dizer que eu pense que Siri é culpado", frisou, instando a Liga a evitar "uma reação corporativista" e o M5S a coibir-se de "reivindicar uma vitória política". O certo é que Siri propôs demitir-se se não for ouvido num prazo de 15 dias mas Conte recusou a oferta.

Salvini, furioso, denunciou "uma emboscada do 5 Estrelas" para "provocar uma crise". O homem que tem procurado assumir-se como líder dos populistas, nacionalistas e extremistas de direita antes das eleições europeias de 23 a 26 de maio acrescentou: "Gostaria de saber o que é que têm em mente? Decidiram abrir uma crise no meio de uma campanha eleitoral? É uma loucura o que estão a tentar fazer, em todos os sentidos, porquê tanta pressa? Nem sequer querem esperar que Siri explique aos juízes como são as coisas", declarou o também vice-primeiro-ministro de Itália, bem como ministro do Interior.

Em declarações à rádio RAI 1, esta segunda-feira citadas pela Reuters, Luigi di Maio, que além de líder do 5 Estrelas é também vice-primeiro-ministro e ministro do Desenvolvimento Económico, do Trabalho e das Políticas Sociais, garantiu que não está a tentar provocar uma "remodelação no governo" ou "uma crise" e que cabe à Liga decidir, na quarta-feira, se há ou não crise. Ou seja, se Salvini decide segurar ou, por outro lado, deixar cair Siri. Nas últimas sondagens, a Liga surge com uma vantagem de quase dez pontos percentuais sobre o 5 Estrelas nas intenções de voto dos eleitores em Itália.

Até agora, Siri sempre negou conhecer Nicastri ou Paolo Arata, empresário ligado à Liga de Salvini e ex-deputado do Forza Italia do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. O alegado suborno de 30 mil euros, recebido através de Arata, destinar-se-ia a fazer adotar alterações legislativas favoráveis aos negócios na área da energia eólica. Porém, os procuradores dizem ter escutas de Siri a discutir um possível suborno com um homem chamado Paolo Arata. Além disso, refere aquela mesma agência, Siri, descrito como o braço direito de Salvini, é também suspeito de falência fraudulenta.

Siri, segundo o BuzzFeed, foi o primeiro contacto de Steve Bannon, o ex-diretor de campanha de Donald Trump, quando aquele encetou os seus contactos com a Liga de Salvini. Siri, conhecido por defender um imposto único de apenas 15%, criou uma das primeiras escolas de doutrinamento de nacionalistas europeus em território italiano. E essa foi considerada como modelo para Bannon no centro de formação que está a desenvolver no mosteiro cartuxo de Certosa di Trisulti, o qual lhe foi disponibilizado para o efeito pelo governo italiano sob protesto da maior formação da oposição, o Partido Democrático, que desde março deste ano é liderado por Nicola Zingaretti.

Citado pelo BuzzFeed Armando Siri disse que este tipo de democracia não funciona e é preciso outra coisa. "Não confundam democracia com liberdade. São duas coisas independentes. Pode haver uma democracia sem liberdade e pode haver um outro sistema com muito mais liberdade. Seria uma liberdade até muito maior. Porque a maior liberdade é cada um poder sentir-se realizado. As pessoas não querem escolher os seus líderes. Querem viver as suas vidas", declarou o subsecretário de Estado das Infraestruturas e Transportes defendendo um novo tipo de aristocracia em Itália.

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