Argentino recebe apoio regional por 'ouro negro' das Malvinas
À superfície são menos de dez mil quilómetros quadrados de terra ao largo da costa argentina, onde o número de cabeças de gado é duas vezes superior ao dos 3200 habitantes. Mas sob as águas das Malvinas (Falkland, para os ingleses) podem estar milhões de barris de petróleo. Buenos Aires conseguiu ontem o apoio da América Latina e das Caraíbas no seu contencioso com o Reino Unido sobre a soberania do arquipélago, onde os britânicos começaram esta semana a prospecção do "ouro negro".
Território britânico desde 1833, as Malvinas são desde sempre reivindicadas pelos argentinos, que invadiram as ilhas em 1982. No final de uma guerra que custou a vida a mais de 900 soldados (a maioria argentinos), o Reino Unido saiu vencedor. O arquipélago perdeu a importância que tinha durante a Guerra Fria e tornou-se num espinho nas relações entre os dois países. Mas a eventual presença de petróleo voltou a colocar as Malvinas no mapa.
Na cimeira de Cancun, no México, os 32 países da América Latina e Caraíbas aprovaram uma declaração especial na qual "reafirmam o seu apoio aos direitos legítimos" da Argentina. O Presidente venezuelano, Hugo Chávez, mais directo, acusou o Reino Unido de estar a empreender "uma das mais grosseiras demonstrações" de "neocolonialismo", pedindo a Londres que suspenda a prospecção de petróleo.
A companhia petrolífera Desire Petroleum anunciou na segunda-feira ter dado início aos trabalhos no bloco de Liz, um dos quatro que pretende estudar até ao fim do ano. A empresa espera que, debaixo das águas e do leito, estejam mais de 60 mil milhões de barris de ouro negro. O território ganharia assim uma nova importância aos olhos da distante Londres, que mantém no local um importante (e caro) contingente militar para o caso de novo ataque argentino.
Mas Buenos Aires, que nunca desistiu das ilhas - as Nações Unidas preparam-se para avaliar o pedido de alargamento da plataforma continental de forma a abranger as Malvinas -, tem também razões para pretender o acesso ao petróleo. A economia argentina enfrenta fortes problemas, tendo falhado uma tentativa da Presidente Cristina Kirchner de aceder às reservas monetárias do país. A presença do "ouro negro" naquele que os argentinos consideram o seu território só está a elevar ainda mais a tensão entre os dois países.
"A opção bélica está fora do nosso horizonte", indicou o chefe da diplomacia de Buenos Aires, Jorge Taiana. Kirchner lembrou contudo que a Argentina não vai desistir.
O Reino Unido afirma que a soberania britânica das ilhas é clara face à lei internacional, assim como a presença da empresa petrolífera da região. "A exploração que está a acontecer nas Falkland está dentro da lei internacional e baseia-se em precedentes", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, David Miliband. Os habitantes das ilhas têm todo o direito a uma vida decente e a construir o futuro da sua economia, acrescentou, citado pela Reuters.