Argelinos nas ruas contestam presidente interino

A Argélia vai realizar eleições presidenciais no dia 4 de julho, anunciou a presidência interina na quarta-feira. Após semanas de protestos terem levado à demissão de Abdelaziz Bouteflika, é o seu sucessor, Abdelkader Bensalah, o visado nas ruas.
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Abdelkader Bensalah, presidente da câmara alta do Parlamento investido presidente interino na terça-feira, já tinha informado num discurso transmitido na TV que o país iria organizar eleições livres em 90 dias. Noutro sinal de abertura, o ministro do Interior anunciou ter autorizado 10 novos partidos políticos. A Argélia tem 15 partidos.

Mas a nomeação de Bensalah - seguindo os preceitos constitucionais - não aplacou os argelinos, nas ruas desde 22 de fevereiro contra a intenção de Abdelaziz Bouteflika se recandidatar. Bensalah, há quase 20 anos na liderança do parlamento, é visto como mais um homem do sistema.

E ao contrário do que tinha vindo a suceder, a manifestação pacífica de estudantes na terça-feira foi reprimida pela polícia com canhões de água, gás lacrimogéneo e detenções. Esta reação das forças de segurança provocou a mobilização dos argelinos. Na quarta-feira professores e outros funcionários públicos fizeram greve e muito mais pessoas saíram às ruas em protesto em todo o país, como aqui na Place de la Grande Poste, em Argel.

Também nesta quarta-feira a polícia tentou impedir a realização da manifestação na capital, mas sem sucesso. Apesar da repressão policial, não há relatos de violência ou de vandalismo entre os manifestantes, que gritaram "Bensalah, rua".

Exército com o povo e com a ordem

No início do dia, o chefe do exército argelino juntou-se ao coro do povo e disse esperar ver os membros da elite governante processados por corrupção e que apoiaria a transição para as eleições, sinalizando quem tem de facto o poder naquele país do norte de África.

"O exército vai responder às exigências do povo", disse o tenente-general Gaid Salah​​​​​, num discurso numa base militar em Oran, ao prometer velar pela "transparência" e "integridade" do processo de transição. Anunciou que o poder judicial "recuperou as suas prerrogativas e pode trabalhar livremente" e referiu-se à elite dominante como um "gangue", uma palavra que os manifestantes têm usado para descrever o círculo próximo de Bouteflika.

O chefe do Estado-Maior do exército instou o poder judicial a reabrir um processo de corrupção contra a empresa de petróleo e gás Sonatrach. Em 2012 uma série de escândalos na petrolífera levou à prisão de vários funcionários de topo.

"Gostaria de reiterar o meu empenho pessoal em apoiar o povo nesta conjuntura crucial e em estar ao seu lado, apesar das vozes que se erguem tanto interna como externamente, exasperadas pela forte coesão entre o povo e o seu exército", disse ainda Salah.

No entanto, Gaid Salah separou as águas quanto aos protestos contra a presidência interina. "Não é razoável gerir o período de transição sem instituições que organizem e supervisionem esta operação", disse Salah. E apontou o dedo a manifestantes que usam "palavras de ordem irrealistas que visam destruir as instituições do Estado".

"Estamos contentes com o facto de o exército insistir na acusação de pessoas corruptas. Mas não vamos desistir de outras exigências", disse o estudante de 25 anos Nabil Arrachi à Reuters.

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