Aquilo que nos une - basta querer
Saiu, na semana passada, o resultado dos Censos de 2021 em que, entre outras informações, mostra que 97% dos cidadãos portugueses responderam à questão sobre a sua religião e que 80% destes se considera católico.
Neste grupo, naturalmente, iremos encontrar pessoas com comportamentos e pensamentos muito diversos e com expectativas por vezes opostas.
Ao contrário daquilo que alguns possam pensar, o sentimento de ser católico aqui expresso não caracteriza nenhuma opção política, nem nenhuma posição ideológica sobre a sociedade.
Ao assumir-se católica, uma pessoa estará a afirmar tão simplesmente que acredita em Deus, que acredita em Jesus Cristo e que se revê na generalidade dos princípios e valores do catolicismo.
Para alguns será muito mais do que isto, mas aquilo que serve de ponto comum a este grupo será essencialmente esta afirmação. Vale a pena, no entanto, dissecar um pouco o que verdadeiramente significa esta realidade agora revelada.
Em primeiro lugar e, na minha perspetiva muito importante, mais de 80% da população portuguesa é crente.
Isto significa que a enorme maioria dos nossos concidadãos tem fé.
E isto importa porque um povo que acredita é um povo que consegue sempre superar os seus desafios, que consegue unir-se quando tem de enfrentar as dificuldades, sabe que pode esperar porque alcançará a solução.
Significa que este povo acredita que este Mundo não é mais do que uma passagem para um Mundo melhor e que é o bem fazer que nos preparará para essa outra realidade.
E também que acredita que Deus enviou o seu filho ao Mundo para nos salvar e que Jesus se deixou matar para nos livrar das nossas faltas e das nossas tentações, e que com isso nos devolveu a esperança da nossa salvação.
No que respeita aos princípios e valores que estão subjacentes àquela afirmação, conhecendo o que caracteriza os portugueses é fácil de entender que esta posição se enquadra perfeitamente na realidade do nosso país
A Doutrina Social da Igreja afirma os seguintes princípios:
- Bem Comum - o conjunto de condições da vida social que permitem, tanto aos grupos, como a cada um dos seus membros, atingir mais plena e facilmente a própria perfeição;
- Destino Universal dos Bens - toda a pessoa deve ter a possibilidade de usufruir do bem-estar necessário para o seu pleno desenvolvimento, pelo que cada um deve administrar os seus bens de forma a torná-los úteis a todos;
- Subsidiariedade - que protege as pessoas dos abusos das instâncias sociais superiores e solicita estas últimas a ajudarem os indivíduos a desempenhar as próprias funções, em contraste com formas de centralização, de burocratização, de assistencialismo, de presença injustificada e excessiva do Estado;
- Participação - porque importa que o cidadão contribua para a vida cultural, económica, política e social da comunidade civil a que pertence;
- Solidariedade - todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos.
Tudo isto sempre enquadrado pelos valores da Verdade, da Liberdade e da Justiça.
Ora, estando a maioria de nós unidos por todas estas convicções e fé e reconhecendo a valia extraordinária de todos estes valores, aquilo que me apetece perguntar é por que andamos tão desunidos?
Por que não encontramos, dentro destas nossas convicções, a vontade de criar um caminho único para o nosso país e a capacidade de nos darmos uma vida melhor, mais livre, mais justa e mais verdadeira?
Por que não nos preocupamos mais com o nosso vizinho, que necessita da nossa solidariedade, com a distribuição da riqueza que criamos, com a contribuição para a criação dessa riqueza e com a criação de condições para que cada um e cada família seja capaz de ser autónomo para tomar as suas decisões sem que seja o Estado a mandar no seu futuro?
Temos tudo isto em comum para construir Portugal.
Basta querer.