Aquamação: o método funerário mais "verde" escolhido por Desmond Tutu

Com o nome científico de "hidrólise alcalina", o método consiste na cremação mais pela água do que pelo fogo. Apesar de parecer novo, já existe desde os anos 1880, mas foi inicialmente pensado para animais.
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O corpo do arcebispo sul-africano Desmond Tutu, que faleceu no passado domingo aos 90 anos e cujas cerimónias fúnebres foram este sábado, será reduzido a cinzas por aquamação, um novo método de cremação que combina água e altas temperaturas e se apresenta como uma alternativa ecológica aos sepultamentos tradicionais.

Assim como a técnica de compostagem de corpos com camadas de folhas e madeira, ou o sepultamento por nitrogénio líquido, a aquamação é um método funerário permitido apenas em alguns países. Na África do Sul, a prática evolui dentro de um certo vazio legislativo.

Desmond Tutu, Nobel da Paz em 1984 pela sua oposição não-violenta ao apartheid, deixou claros os seus desejos para o funeral. "Ele não queria ostentação ou gastos luxuosos", segundo a fundação que leva o seu nome. Além disso pediu que o caixão fosse o mais barato possível e que um bouquet de cravos, da família, fossem as únicas flores na Catedral Anglicana de São Jorge, na Cidade do Cabo. E o seu corpo deveria ser sujeito à aquamação, com as suas cinzas a serem depositadas depois num columbário enterrado atrás do púlpito da catedral em que serviu como arcebispo durante 35 anos.

Com o nome científico de "hidrólise alcalina", o método consiste na cremação mais pela água do que pelo fogo. Os restos do falecido são colocados num grande cilindro metálico e, depois, mergulhados em líquido, uma mistura de água com substâncias alcalinas.

O líquido é aquecido a cerca de 150 °C, enquanto o cilindro é submetido à pressão, um processo que permite uma rápida dissolução dos tecidos corporais.

Após algumas horas, os tecidos (gordura, sangue, pele, músculos) ficam completamente liquefeitos, restando apenas os ossos. Em seguida, estes são reduzidos a cinzas brancas, que são colocadas numa urna e entregues aos familiares.

Do ponto de vista simbólico, a água é considerada mais suave que o fogo, e evoca o final de uma vida iniciada no elemento líquido. Além disso, os defensores do método destacam, sobretudo, o benefício ecológico, pois consome menos energia que a cremação por combustão e emite menos gases de efeito estufa.

Apesar de parecer um método novo, na realidade já existe desde os anos 1880, tendo sido desenvolvida por um agricultor que queria transformar as carcaças animais em fertilizante.

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