Aprender inglês desde os 3 anos valeu prémio a jovem de Leiria
Um texto vertido numa folha A4, sobre as oportunidades de fazer carreira no mundo da tradução, mudou a vida de Beatriz Simões, 18 anos feitos em janeiro, aluna do Instituto Educativo do Juncal, no concelho de Porto de Mós (Leiria).
"Era a história de um rapaz que teve algumas oportunidades de fazer tradução e acabou por fazer disso a sua carreira", contou ao DN a jovem Beatriz, que hoje recebe em Bruxelas o primeiro prémio do concurso Juvenes Translatores (expressão latina para "jovens tradutores"), que a Direção-Geral da Tradução da Comissão Europeia organiza anualmente, desde 2007. A comitiva de Porto de Mós seguiu ontem para a Bélgica, e dela fazem parte os pais e a irmã de Beatriz, bem como a colega Maria Grazina, de 17 anos, aluna da mesma escola, vencedora de uma menção honrosa pela sua tradução de um texto em castelhano para português - e ainda das duas professoras que as incentivaram a concorrer.
Habituada a participar em "vários concursos, embora sem qualquer expectativa de ganhar", Beatriz Mateus Coelho Guerra Santos demorou a recuperar da surpresa, quando a professora de Inglês lhe interrompeu uma aula com a boa nova: "Ganhaste o primeiro lugar em Portugal!" Ou seja, tinha sido a melhor aluna dos 90 que participaram, oriundos de 20 escolas de todo o país. "Fiquei boquiaberta", diz Beatriz, mesmo antes de embarcar para receber o prémio no Parlamento Europeu. Aluna do 12.º ano do curso de ciências, divide a turma de 22 alunos com colegas da área de Humanidades. É assim no Instituto Educativo do Juncal (um dos colégios com contrato de associação), onde estuda desde o 5.º ano.
Inglês desde os três anos
A paixão pelo inglês começou antes, quando Beatriz tinha pouco mais de 3 anos. Lembra-se de vibrar com o dia em que as senhoras da escola de línguas ILC apareciam no Jardim de Infância da aldeia de Montes, freguesia de Alpedriz. "Quando entrei para a primária, os meus pais perceberam que adorava o inglês e que só queria aprender mais. Inscreveram-me mesmo lá na escola", recorda Beatriz, que percorreu as filiais de Alcobaça e Batalha, nos primeiros anos, até seguir para a sede da escola, em Leiria. E foi lá que fez o último exame, pela Universidade de Cambridge, há cerca de um mês.
Apesar dessa paixão pela língua inglesa, nunca foi uma opção para os estudos. Beatriz é muito boa aluna a biologia e português, e tem na matemática o seu calcanhar de Aquiles. "Gostava muito de seguir a área forense, mas ainda não sei", desabafa a vencedora do prémio, desde cedo com a noção clara "de como seria importante falar e perceber bem inglês, para abrir os meus horizontes, para não me limitar a Portugal. Gostava de sair e viver no estrangeiro". Há de ingressar na universidade este ano, embora ainda não tenha decidido o curso. "Quando era pequena sempre disse que queria fazer autópsias, mas cada vez estou mais na dúvida. Também gosto muito do inglês e da tradução. São áreas tão distintas..."
Lê, fala e escreve inglês de forma fluente, embora "não tanto como gostava, pela falta de tempo". Beatriz é, afinal, uma rapariga dos sete ofícios: pratica dança desde os 6 anos (já dá aulas aos mais pequenos) e gosta de frequentar o ginásio com regularidade. "Houve alturas em que quis desistir do inglês, porque não é muito fácil conjugar tudo, especialmente nos últimos anos, com a escola." Mas agora percebe a importância da insistência dos pais. Tal como percebe o acaso daquele dia do concurso, em que se esquecera por completo e foi "buscar um dicionário em cima da hora". Isso quer dizer que é barra na língua? "Eu tento, pelo menos".