Aprender com o passado. Preparar o futuro do crédito ao consumo
Um pensamento mais filosófico poderá motivar expressões como "o passado já não existe e o futuro ainda não chegou, pelo que é o presente que prevalece". Também há quem diga que, tipicamente, nós tendemos a ter "memória curta", o que não ajuda na relatividade das apreciações que fazemos no presente.
Tudo isto para fazer uma reflexão sobre a evolução do crédito ao consumo em Portugal. E, para dizer que a situação atual do crédito ao consumo é substancialmente diferente da que ocorreu há cerca de uma década, no rescaldo da crise financeira, muito por via de diversas preocupações e ensinamentos que foram sendo incorporados pelas instituições, pelos seus gestores, e pelas entidades reguladoras.
Primeiro princípio: não é benéfico para nenhuma Instituição Financeira (mormente, de Crédito Especializado) que os seus clientes possam entrar em sobre-endividamento ou em incapacidade de honrar com as suas responsabilidades. É um cenário que não serve a nenhuma das partes. Os clientes que, por diversas circunstâncias, entrem em dificuldades financeiras, enfrentam períodos difíceis com repercussões em toda a dimensão da sua vida. As Instituições Financeiras, nestas situações, veem reduzir a qualidade da sua carteira de crédito e, por essa via, a sua rendibilidade, a sua base de capital e o retorno aos seus acionistas;
Segundo princípio: não é benéfico para a estabilidade financeira do país que haja incumprimento de crédito, porque tal facto poria em causa um dos principais pilares da saúde económica e, por essa via, poria igualmente em causa a coesão social do país.
Neste sentido, o percurso trilhado nos últimos anos pelas Instituições Financeiras que fazem parte da ASFAC (Associação de Instituições de Crédito Especializado), com a supervisão da entidade reguladora, vem colhendo os seus frutos. Hoje, perante uma situação de potencial agravamento das condições económicas e sociais das famílias, a base de crédito concedido nas finalidades de consumo apresenta níveis bem mais baixos de incumprimento do que no passado (3,4% de incumprimento no final do primeiro trimestre, que compara favoravelmente com 4,4% no período homólogo de 2022). Porque as Instituições Financeiras escrutinam melhor a concessão de crédito, quer por via do reforço na análise de novas propostas, quer por via de regras adicionais de aferição da solvabilidade dos particulares. E, porque o esforço de promoção da literacia financeira tem vindo a dar os seus frutos: gerações mais informadas e esclarecidas são gerações mais preparadas para fazerem escolhas corretas na gestão do seu dinheiro.
Com segurança, hoje, a expressão "crédito irresponsável" não tem cabimento no mercado. A adoção do compromisso da ASFAC, com o seu lema "Crédito Responsável, Consumo Saudável", repercute-se num ambiente de financiamento mais transparente, de informação e pedagogia, que beneficia todos. Segundo dados publicados, o valor da taxa de esforço das famílias portuguesas situa-se bem abaixo dos 50% recomendados, o que é sintomático do percurso bem-sucedido em matéria de comportamento dos consumidores perante o crédito e em matéria de estabilidade financeira.
E, só assim, é possível ter um ambiente creditício são, para o qual as Instituições Financeiras de Crédito Especializado contribuem como parceiros no desenvolvimento económico e social.
Pedro Gouveia Alves, presidente da Direção da ASFAC