Apreensão de aves ilegais bateu recorde em Portugal
Segundo fonte do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), os ovos foram apreendidos em seis momentos diferentes e eram de espécies da América do Sul. Um terço dos animais não sobreviveu à viagem.
Os papagaios, tucanos e araras transportados, alguns deles em risco de extinção, possuem valor de mercado entre 500 euros e 70 mil euros cada um, segundo João Loureiro, coordenador da Unidade de Aplicação das Convenções Internacionais do ICNB.
"Apesar do aumento das apreensões, sabemos que a quantidade descoberta não representa nem 10 por cento do que chega ao país", afirma Loureiro.
Portugal é uma das principais portas de entrada do tráfico de animais recolhidos na América do Sul e levados para a Europa, e a rota acaba por ser bastante utilizada devido ao grande número de voos provenientes do Brasil. Espanha e alguns países do Leste Europeu também são usados pelos traficantes.
O tráfico de animais movimenta cerca de 10 mil milhões de dólares ao ano (7,5 mil milhões de euros) e é hoje o terceiro maior comércio ilegal, atrás somente do de armas e do de drogas, de acordo com a Secretaria da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (Cites), que tem sede em Genebra.
"Na maioria das vezes é usada a mesma rota para o tráfico de drogas e o de animais e, em muitas delas, é o mesmo grupo que faz as duas coisas", diz Liliane Garcia Ferreira, promotora de São Paulo e oficial de apoio na Cites.
João Loureiro afirma, inclusive, que traficantes de drogas usam os animais ilegais para branquear o dinheiro do tráfico. Outro motivador do comércio ilegal, diz, é a alta procura europeia por animais de companhia, que supera a quantidade disponível no mercado legal.
E a fiscalização do comércio de animais é bastante difícil. Os ovos, transportados enrolados em meias e amarrados à barriga dos "correios", não são detetados pelos aparelhos de raios-X nos aeroportos. A isso Loureiro atribui as pequenas apreensões dos anos anteriores, que não passavam de 50 ovos por ano.
Para barrar esse tráfico, a Cites trabalha na capacitação e formação das autoridades responsáveis de diversos países. Na América do Sul, há a Organização do Tratado de Cooperação Amazónica, que também atua na preservação das espécies.
João Loureiro explica que, em Portugal, a legislação se tornou mais restritiva para impedir tanto a entrada do animal ilegal como a sua reprodução.
A espécie criada em cativeiro legalmente é sempre identificada por uma marca e por um documento de origem. Os proprietários também precisam de um registro específico.