Apple apagou músicas dos iPods sem dizer nada aos clientes

Entre 2007 e 2009, músicas adquiridas em lojas rivais do iTunes desapareceram misteriosamente dos leitores iPod dos consumidores.
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Num julgamento milionário que decorre na Califórnia, foi revelado que a Apple apagou músicas dos iPods dos utilizadores sem os informar da medida, entre 2007 e 2009. As músicas em causa tinham sido adquiridas em serviços rivais da loja iTunes, algo que contrariava as regras impostas pela marca. Os iPods deviam reproduzir apenas músicas tiradas de CD ou compradas na sua loja online.

"Vocês decidiram dar aos clientes a pior experiência possível e detonar" a biblioteca de música dos utilizadores, disse o advogado Patrick Coughlin, citado pelo Wall Street Journal. O julgamento começou na segunda-feira, vai durar nove dias e irá decidir se a Apple é culpada de práticas anti-concorrenciais no mercado da música, com o iPod e iTunes. A primeira ação legal contra a Apple neste caso foi submetida em 2005, ano em que a marca dominava completamente a venda de leitores e de música online.

A Apple testemunhou que a medida tinha o propósito de proteger os utilizadores contra a pirataria, algo que preocupava bastante o então CEO Steve Jobs. Num email enviado ao diretor de software, Eddy Cue, Jobs escreveu: "Estão a assaltar-nos a casa."

De acordo com as provas mostradas em tribunal, quando um utilizador tentasse sincronizar um iPod com o iTunes depois de descarregar música de lojas rivais, o software mostrava uma mensagem de erro. Pedia ao utilizador que restaurasse as definições originais e, após este processo, as músicas dos serviços rivais desapareciam.

A Apple desenhou o processo de forma a que o sistema "não informasse os utilizadores do problema", adiantou o advogado da acusação.

Ainda esta semana, Eddy Cue e Phil Schiller, diretor de marketing, irão testemunhar, e os jurados irão ver mais extratos do testemunho de Steve Jobs, co-fundador da Apple, num depoimento gravado em 2011. Jobs respondeu de forma evasiva perante as acusações de que tinha modificado o software do iTunes para impedir que os iPods acedessem a músicas de serviços rivais. Para os queixosos, cerca de 8 milhões de clientes e 500 retalhistas e revendedores de iPods, as práticas foram ilegais. A indemnização pedida é de 352 milhões de dólares, que pode ser triplicada de acordo com a legislação em vigor.

Em tribunal, o diretor de segurança da Apple, Augustin Farrugia, justificou a opção de não informar os consumidores do desaparecimento das músicas com questões de segurança: "Não precisamos de dar aos utilizadores demasiada informação", referiu. "Não queremos confundir os utilizadores." Até 2009, vigorou no iTunes uma proteção digital das músicas compradas [DRM, digital rights management], destinada a proteger as faixas contra pirataria e acordada com as editoras discográficas. Farrugia disse que a empresa se tornou paranóica com a proteção do iTunes devido a ataques constantes de piratas como "DVD Jon" e "Requiem". O diretor alegou que os updates que apagavam as músicas sem consentimento dos utilizadores foram feitos para os proteger. "O sistema foi totalmente pirateado."

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