Apostas desportivas online movimentam 4.000 milhões de euros em cinco anos
As apostas desportivas na Internet movimentaram mais de quatro mil milhões de euros nos últimos cinco anos, segundo o Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos do Turismo de Portugal.
Este setor teve um aumento exponencial em 2021, quando registou um volume de apostas na ordem dos 1.402 milhões de euros (ME), comparando com os 808 ME em 2020, os 543 ME em 2019 e os 392 ME em 2018.
De acordo com fonte oficial da Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, contactada pela Lusa, este aumento das apostas em Portugal reflete "uma tendência pós-pandémica à escala global".
Ainda sem os dados do quarto trimestre de 2022, os relatórios anteriores indicavam 1.023 ME no volume de apostas deste ano -- 369,4 ME no primeiro trimestre, 305,5 ME no segundo e 348,2 ME no terceiro.
A pandemia de covid-19 também afetou o setor das apostas desportivas online, visível na queda de 149,2 ME investidos no primeiro trimestre para os 90,7 ME no segundo, altura em que praticamente todas as competições desportivas foram suspensas.
Seguiu-se um período de retoma e a elevação do volume de negócios a rondar os 300 ME por trimestre, uma fasquia que foi largamente superada no melhor trimestre da atividade, o primeiro de 2021, quando as apostas desportivas 'online' movimentaram 423,8 ME.
Nos anos de 2018 e 2019, apesar de significativos, os montantes envolvidos nas apostas foram mais modestos, com 391,8 ME no primeiro dos anos referidos e 543,2 ME no segundo -- muito por causa dos 185,7 ME nos últimos meses de 2019.
O total de apostas desportivas realizadas entre 2018 e 2022, mesmo sem o relatório do quarto trimestre, ascende a 4.169 ME, o que corresponde, no mesmo período, a 811,1 ME de receita bruta -- a diferença entre o montante total de apostas e o valor atribuído em prémios.
Mais uma vez, 2021 foi o ano mais rentável com 251,1 ME, sendo que o melhor trimestre do período em análise foram os primeiros três meses de 2022, quando a receita bruta ascendeu a 77,7 ME.
De acordo com os relatórios do Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos do Turismo de Portugal, a receita bruta das apostas desportivas foi de 78,9 ME em 2018, 107,5 ME em 2019 e 161,9 ME em 2020, abaixo de 2021 e também do ano passado, que, nos primeiros nove meses, já tinha assegurado uma receita bruta de 211,7 ME.
As federações nacionais receberam 245 milhões de euros (ME) entre 2018 e 2022 provenientes de apostas desportivas, mais de metade feitas online, segundo números do Governo.
Em resposta ao grupo parlamentar do PS, sobre a evolução das verbas distribuídas às organizações desportivas, da Santa Casa da Misericórdia, com o jogo Placard, e do Turismo, com as apostas online, o Governo deu conta deste valor, que atingiu 61,7 ME em 2022, um valor substancialmente superior aos 35,7 ME do financiamento atribuído pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) anualmente a todas as federações.
O ano passado e 2021, com 59,4 ME, foram largamente os anos mais 'rentáveis' nas apostas para as federações desportivas, que, segundo as portarias n.º 314 e 315/2015, recebem uma parte do imposto especial do jogo online (37,5%) ou 3,5% da receita apurada, no caso das apostas à cota de base territorial.
Com um total de 151,7 ME, nos últimos cinco anos, as apostas nas competições desportivas através da Internet foram as principais responsáveis pelos valores distribuídos pelas federações desportivas.
As apostas na Internet tiveram um crescimento exponencial em 2021 e 2022, permitindo a distribuição de 41,8 e 44,2 ME pelas federações, anos em que o Placard, responsável por 93,5 ME deste 'bolo', manteve os valores a rondar os 17,5 ME.
Este sistema de apostas criado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) nunca superou as receitas do jogo online, mas aproximou-se em 2019, quando promoveu receitas de 22,2 ME, face aos 25,2 ME na Internet.
Por cada euro investido no Placard, as entidades do desporto recebem 3,5% das deduções legais, ou seja 0,035 euros, enquanto as apostas na Internet atribuem 37,5% do imposto especial para o jogo online, que, de acordo com a legislação em vigor, é de 15% até aos cinco ME e de 8% até aos 30 ME.
Sem surpresa, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) é o organismo que mais lucra com as apostas desportivas, num total de 146 ME nos últimos cinco anos, praticamente 60% do montante total, verificando-se, também, um acréscimo de receitas do online em 2021 (25,4 ME) e 2022 (23,7 ME), face ao Placard (11 e 10,9, respetivamente).
Desde 2017, a FPF nunca recebeu menos de 20 ME das apostas desportivas -- 1,3 em 2015, 14,3 em 2016 e 20,7 em 2017 --, contabilizando 22,6 em 2018, 27 em 2019 e 25,3 em 2020.
Contactada pela Lusa, fonte oficial da FPF admitiu que estas receitas representam entre 25% e 30% do orçamento federativo para cada época, acrescentando que estes montantes são investidos na promoção do futebol, nas atividades das seleções, na organização das competições amadoras de futebol, futsal e futebol de praia e no apoio aos sócios.
Segue-se a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), que arrecadou um total de 50,1 ME entre 2018 e 2022 -- tendo também os últimos dois anos como os mais rentáveis, com 12,6 ME em cada --, mais de o dobro do total do que lucraram, no mesmo período, as federações de ténis (21,1 ME) e basquetebol (18 ME).
As outras modalidades coletivas conseguiram montantes mais modestos, casos do voleibol (1,6 ME), andebol (1,7) e râguebi (290 mil euros), enquanto o hóquei em patins tem como beneficiária a federação de patinagem (184 mil euros), todas aquém do assegurado pela federação de desportos de inverno, com um total de 4,3 ME em cinco anos, muito por causa das apostas em hóquei no gelo.
Bilhar, com 178 mil euros, badminton, com 105 mil euros, são outras federações beneficiárias das apostas, entre 2018 e 2022, à frente de modalidades mais tradicionais como ciclismo, com 6.862 euros, natação, com 4.702, e atletismo, com 112.
Já os cerca de 60 mil euros destinados ao futebol americano, acabam por reverter para o Instituto Português do Desporto e da Juventude (IDPJ).
"Há, pelo menos, mais duas modalidades que têm alguma expressão nas apostas e não têm federação [com utilidade pública desportiva] em Portugal: rugby league e críquete. Nestes casos pela Portaria n.º 314/2015, de 30 de setembro, com a redação dada pela Portaria n.º 209/2022 de 23 de agosto, as verbas revertem para o IPDJ", esclareceu à Lusa fonte oficial da Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto.
De acordo com a mesma fonte, "o Governo não está a ponderar alterar a distribuição em vigor".
A I Liga é a competição de futebol com maior volume de apostas 'online' em Portugal entre 2018 e 2022, tendo apenas sido batida, em alguns trimestres, por Mundial2018, Euro2022 e Liga inglesa.
De acordo com o Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos do Turismo de Portugal, a I Liga portuguesa liderou em 14 dos 19 trimestres dos últimos cinco anos - a síntese dos últimos três meses de 2022 ainda não está disponível.
As exceções ocorreram nos segundos trimestres de 2018, quando predominaram as apostas no Mundial2018, com 20% das apostas feitas no futebol, à frente da competição portuguesa (7,2%), e de 2021, quando foi disputado o Euro2020, com 14,3%, acima da I Liga (11,7%).
Mais ligeira foi a diferença da liderança da Premier League nos primeiros trimestres de 2018, 2019 e 2020, com 9,6%, 10,2% e 9,8%, respetivamente, contra 9,3%, 9,2% e 9,1% do principal campeonato nacional.
Durante estes cinco anos, o futebol foi a modalidade com mais apostas 'online', com uma média aritmética simples de cerca de 76% da quota de mercado -- face aos 12% do ténis, 8% do basquetebol, 0,75% do hóquei no gelo e 4% noutras -- e, entre este valor, foi a I Liga que predominou.
Já a posição imediata tem sido mais diversificada, com alguma prevalência da Premier League, mas com a presença da Liga dos Campeões, da Liga das Nações e da Liga espanhola, sobretudo até 2019.
Destaque ainda para a presença inédita da Bundesliga e da Liga bielorrussa no 'top' do segundo trimestre de 2020, período muito afetado pela pandemia de covid-19, sobretudo porque o campeonato alemão foi o primeiro a ser retomado e o campeonato bielorrusso nunca foi interrompido.
O futebol é a modalidade preferida dos portugueses para fazerem apostas na Internet, segundo os relatórios do jogo 'online' dos últimos cinco anos, período em que quase 200 milhões de euros foram entregues aos organismos representantes do setor.
De acordo com o Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ) do Turismo de Portugal, o futebol é, invariavelmente, a modalidade com mais apostas, com um valor médio a rondar os 76% - a percentagem mais elevada foi registada no quarto trimestre de 2020 (86,72) e a mais baixa no segundo trimestre de 2022 (65,8%).
Nos 19 relatórios trimestrais disponíveis sobre os últimos cinco anos, e constituindo uma média dos valores apresentados pelo SRIJ, o futebol é maioritariamente secundado pelo ténis (12% das apostas), que só é superado pelo basquetebol (8%) em seis ocasiões -- nos primeiros trimestres de 2018, 2019, 2020 e 2021 e nos quartos de 2018 e 2020.
O ténis tem como máximo os 20,3% do volume de apostas no segundo trimestre de 2022 e o mínimo de 4,86% no quarto de 2020, enquanto o basquetebol o melhor que conseguiu foram os 12,36% no primeiro trimestre de 2022, contrapondo com os 2,03% no segundo de 2020.
Além destas três modalidades, destaque para o quarto lugar, em cinco dos trimestres, para a Liga norte-americana de hóquei no gelo (NHL), com uma média de cerca de 3% das apostas nestes períodos, num total de 0,75% nestes cinco anos.
As outras modalidades, não detalhadas nos relatórios, são objeto de praticamente 4% das apostas e apenas por uma vez ultrapassaram mais de 5% do volume total, nos primeiros três meses de 2022 (5,38%).
Estas são as quatro modalidades indicadas nos dados sobre apostas desportivas à cota, que, entre 2018 e 2022, promoveram 4.169 milhões de euros (ME) de volume de apostas -- 1.023 ME em 2022, ainda sem o relatório do último trimestre do ano passado, que ainda não foi divulgado --, tendo 2021 sido o ano mais movimentado, com um total de 1.402 ME.
Deste montante global, resultou uma receita bruta de 811,1 ME nos cinco anos analisados, mas, mais uma vez, tendo 2021 sido o ano mais lucrativo, com 251,1 ME, enquanto 2022 se saldou por um retorno de 211,7 nos três primeiros trimestres.