Apoio internacional para Lula: "Estamos com ele e seguros de que a verdade prevalecerá"
"Qualquer instabilidade política no Brasil é realmente uma causa de preocupação para nós. Logo, peço aos brasileiros, aos líderes políticos, para darem uma solução harmoniosa e suave para a crise. Sei que é um desafio, mas acho que podem conseguir." A mensagem é do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que não é o único dirigente mundial a pedir uma rápida resolução para a crise política brasileira. A ex-presidente argentina Cristina Kirchner e o antigo primeiro-ministro espanhol Felipe González estão entre os 16 líderes que optaram por assinar um manifesto de apoio a Lula da Silva.
"Lula não se considera nem está acima das leis. Mas tampouco pode ser objeto de injustificados ataques a sua integridade pessoal. Estamos com ele e seguros de que a verdade prevalecerá", lia-se no manifesto assinado por 16 ex-líderes políticos da esquerda da América Latina, Europa e África, que foi divulgado a 11 de março. O apoio a Lula era expresso depois de o ex-presidente ter sido ouvido por causa da Lava-Jato e antes de ser nomeado ministro da Casa Civil de Dilma.
No documento, assinado também pelo ex-presidente uruguaio José Mujica, o antigo secretário-geral da Organização de Estados Americanos José Manuel Insulza ou o ex-primeiro-ministro italiano Massimo d"Alema, é destacado o papel de Lula como "sindicalista, lutador social, criador e dirigente do Partido dos Trabalhadores". Os signatários chamam a atenção para os programas sociais e a política económica do ex-presidente, que tiraram "da pobreza e da miséria milhões de homens e milhares", referindo que o governo Lula "aprofundou a democracia" e "a transparência do Estado". Estes líderes mundiais dizem-se preocupados pela "tentativa de alguns setores de destruir a imagem deste grande brasileiro".
O ex-presidente colombiano, Ernesto Samper, atual secretário-geral a Unasul (União das Nações Sul-Americanas), assinou o manifesto e demonstrou também o apoio a Dilma nas redes sociais. "Reitero apoio e solidariedade à presidente constitucional do Brasil e o direito de Lula à sua legítima defesa em pressões políticas", escreveu a 18 de março.
Golpe contra Dilma
Os dirigentes da esquerda latino-americana, como o presidente venezuelano Nicolás Maduro ou o boliviano Evo Morales, vão mais longe e repetem a retórica do governo brasileiro para criticar abertamente o "golpe" contra Dilma. "A direita no Brasil quer voltar por meio de um golpe no Congresso e um golpe judicial para castigar o Partido dos Trabalhadores, o partido do companheiro Lula, e para tirar e julgar a companheira Dilma", indicou o presidente da Bolívia.
Já o presidente norte-americano, Barack Obama, discutiu a crise brasileira com o homólogo argentino, Maurício Macri, quando esteve há duas semanas em Buenos Aires. "Esperamos que o Brasil resolva a sua atual crise política de uma forma efetiva", disse na conferência de imprensa. "A boa notícia é que a democracia brasileira é suficientemente maduro, o seu sistema de leis e estruturas democráticas são fortes suficientes para resolver isto de forma que permita, finalmente, ao Brasil prosperar e ser o líder mundial que é", acrescentou. Sobre Lula, que no passado Obama elogiou - "this is my man", ou como os brasileiros gostam de dizer, "é o cara" - nem uma palavra.
Também o argentino Adolfo Pérez Esquivel, galardoado em 1980 com o Nobel da Paz pela defesa dos direitos humanos, defendeu Dilma e Lula. "Quase todos os políticos que apoiam o impeachment de Dilma têm vários processos penais em andamento por atos de corrupção. Isso indica que isso não é a variável determinante", escreveu numa carta de solidariedade. Para Pérez Esquivel, os dois são vítimas de "uma forte campanha" para "derrubar" o governo e "destruir o PT".
Em Portugal, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa não quis comentar a situação política no Brasil quando foi questionado pelos jornalistas durante a sua visita primeira viagem oficial, ao Vaticano e a Madrid. "Não devo falar de outros Estados e muito menos da vida política económica e social interna desses Estados", afirmou.