Apoiar Hillary sem a ofuscar à espera para ser o primeiro First Gentleman

Foi o mais jovem governador e o terceiro mais jovem presidente dos EUA. Em janeiro, Bill Clinton pode voltar à Casa Branca como Primeiro Cavalheiro.
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Martha Washington considerava-se "prisioneira de Estado", Jackie Kennedy recusava ser chamada "primeira dama" por achar que parecia o nome de um cavalo de corrida e Betty Ford recebeu uma carta de uma texana a pedir-lhe conselhos, uma vez que "tem o dever constitucional de ser perfeita". A partir do próximo ano, se Hillary Clinton for eleita em novembro presidente dos EUA, o papel de primeira dama vai ter o maior desafio da sua história: ser desempenhado por um homem. E não por um homem qualquer. Bill Clinton deverá ser o primeiro First Gentleman (o Primeiro Cavalheiro), mesmo se por convenção, continuará a ser chamado "Sr. Presidente", como todos os ex-chefes de Estado americanos vivos.

Depois da experiência de 2008, quando a corrida à nomeação democrata ficou marcada por algumas gafes de Bill que contribuíram para a derrota da ex-primeira dama face a Barack Obama, desta vez Hillary parece ter optado por manter o marido em segundo plano. A exceção foi a Convenção de Filadélfia que a confirmou como nomeada democrata e na qual o ex-presidente fez um discurso emotivo em que traçou a história da sua relação. "Na primavera de 1971, conheci uma rapariga", começou Bill, antes de lembrar "casei com a minha melhor amiga".

Muito popular - o seu nível de aprovação continua acima dos 50%, mas durante a sua presidência (1993-2001) chegou a ultrapassar os 70% -, Bill Clinton é com certeza uma mais-valia para Hillary. Mas também pode ser um perigo. Não só devido às gafes, mas sobretudo porque se mantiver o marido muito perto, a ex-primeira dama arrisca-se a vê-lo ofuscá-la. Por isso um dos maiores desafios para o ex-presidente, caso a mulher vença as eleições de 8 de novembro e suceda a Obama na Casa Branca em janeiro, será encontrar o papel certo. Ninguém acredita que Bill vá assumir as tarefas tradicionais de primeira dama (a própria Hilary não o fez): redecorar a Casa Branca, tratar dos menus para os jantares, enquanto se dedica a uma qualquer causa social: seja a luta contra o analfabetismo ou a defesa de uma alimentação saudável - como Laura Bush e Michelle Obama.

Aos 70 anos acabados de fazer, Bill limitou-se até agora a dizer que pretende "quebrar o jugo que as mulheres enfrentaram no papel de cônjuge presidencial". Mas Hillary já admitiu colocar o marido à frente da sua política económica, na esperança de um regresso à prosperidade dos anos 1990. Com um passado controverso que deixaria qualquer candidata a primeira-dama na mira da imprensa, Bill Clinton tem a grande vantagem de não ter nada a esconder dos americanos. Já todos conhecem as suas aventuras amorosas que culminaram com a relação com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky. Um caso que quase lhe custou a presidência por ter mentido em tribunal. E a larga maioria parece tê-lo perdoado, como a própria Hillary acabou por fazer. Agora, pode mesmo voltar à West Wing, onde arranjou um gabinete para Hillary quando era ele o presidente. A experiência, na altura, não correu muito bem, com a primeira-dama a ver rejeitada a sua reforma da segurança social e ter de se submeter a um papel mais tradicional, depois de os americanos deixarem claro que não concordavam com a ideia de "dois presidentes pelo preço de um".

Nascido em Hope, no Arkansas, William Jefferson Blythe perdeu o pai quando ainda estava na barriga da mãe. Esta voltou a casar, com Roger Clinton, cujo apelido Bill viria a adotar. Depois de uma infância e adolescência difíceis, marcadas pelo alcoolismo e pela violência do padrasto, foi estudar para Washington, onde estudou Relações Internacionais na Universidade de Georgetown. Foi graças a uma bolsa que, já licenciado, rumou a Oxford antes de, de regresso aos EUA, entrar em Yale, onde conheceria Hillary. Foram precisos três pedidos de casamento para ela aceitar. Casaram em 1975 e cinco anos depois nascia a sua única filha, Chelsea.

Agora fala-se que será Chelsea, de 36 anos e ela própria mãe de dois filhos, o mais novo com dois meses, a assumir em parte as funções de primeira-dama caso a mãe chegue à Casa Branca. Um curioso regressar ao passado da adolescente que ficou para a história numa fotografia de mãos dadas com os pais dias depois do rebentar do escândalo Monica Lewinsky.

Quanto a Bill, pouco ou nada tem mais a provar. História de sucesso à americana, aos 32 anos, em 1979, tornava-se no mais jovem governador dos EUA, no seu Arkansas natal. Depois de um interregno de dois anos, voltaria à liderança do estado em 1982 e por dez anos até chegar à Casa Branca - aí foi o terceiro presidente mais jovem, depois de Teddy Roosevelt e John Kennedy. Em janeiro pode voltar a ser pioneiro - como First Gentleman. Mas há quem, como Gerald Weaver, autor de The First First Gentleman, sugira que mais do que tê-lo como conselheiro, Hillary devia arranjar uma ocupação a tempo inteiro para o marido: seja nomeando-o para juiz do Supremo Tribunal ou como embaixador dos EUA no Reino Unido.

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