Tecnologia ajuda moradores a escapar dos tiroteios no Rio de Janeiro
O aumento da violência no estado brasileiro do Rio de Janeiro motivou a criação de sites, aplicações e plataformas de redes sociais com o objetivo de ajudar a população a fugir dos tiroteios.
Iniciativas como Fogo Cruzado e Onde tem Tiroteio, plataformas especializadas no mapeamento e na divulgação de informações sobre disparos em massa, tornaram-se numa ferramenta para os cariocas constantemente ameaçados por conflitos armados entre fações criminosas ou por embates das autoridades com narcotraficantes.
No caso do Fogo Cruzado, uma plataforma colaborativa gratuita que está no ar desde meados de 2016, as atualizações acontecem via informações enviadas por cidadãos, com dados recolhidos através dos órgãos das polícias e da imprensa local.
Após serem compiladas, as informações são verificadas e enviadas em alertas aos utilizadores da aplicação e também ficam visíveis no site do projeto, onde é possível verificar em tempo real os locais onde estão a acontecer tiroteios no Rio de Janeiro.
Inicialmente desenvolvido com o apoio da Amnistia Internacional, o aplicativo agora gerido pelo Instituto Update já contabiliza mais de 140 mil downloads.
Cecília Oliveira, fundadora e gestora de dados da plataforma, contou à Lusa que o projeto nasceu em 2015, quando ela procurava informações sobre um determinado tiroteio e não encontrou nenhum banco de dados estruturado.
"Os índices de violência tem evoluído. Começou em 2012 e foi evoluindo na mesma medida em que os investimentos em segurança diminuíram [no estado]", disse.
Em janeiro passado, o Fogo Cruzado registou 688 disparos de armas de fogo, o que significou uma média de 22 tiroteios por dia. Houve um aumento de 117% do número de disparos registados na capital carioca e municípios vizinhos em relação ao mesmo período de 2017.
Nos doze meses do ano passado, a plataforma registou 5817 tiroteios.
A onda de violência no estado mais emblemático do Brasil preocupa o Governo federal, que enviou 10 mil agentes do exército e de outros órgãos de segurança para ajudar governo 'carioca'' a diminuir as ações dos criminosos em julho de 2017.
No entanto, a violência tem aumentado e episódios registados no último Carnaval motivaram uma intervenção federal na segurança pública do estado, decretada em 16 de fevereiro pelo Presidente do Brasil, Michel Temer, que colocou um general no comando de todas as forças de segurança que atuam no Rio de Janeiro.
No entanto, Cecília Oliveira não registou qualquer diminuição das notificações de tiroteios, apesar dos militares nas ruas.
"Temos visto um crescimento sistemático da violência. Em nenhum momento averiguamos queda dos índices. As únicas diminuições [no número de tiroteios] que detetámos são aquelas que sofrem influência sazonal, como, por exemplo, os feriados de fim de ano quando o número de incidentes letais historicamente cai no Rio de Janeiro", avaliou.
Cecília Oliveira concluiu lembrando que o complexo do Alemão e o complexo da Maré, áreas que sofreram intervenção direta do Exército na última década foram as áreas com maior registo de disparos de tiros no Rio de Janeiro em 2017, segundo dados do Fogo Cruzado.