Dos cerca de dois milhões de pessoas desempregadas em Portugal entre 2005 e 2016, apenas 1,1%, correspondente a 23 530 indivíduos, participaram no Montante Único, um programa público português que permite a qualquer pessoa abrangida pelo subsídio de desemprego receber antecipadamente o valor total dos seus subsídios (até 47 791 euros) para iniciar um negócio, revela um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, apresentado ao público esta segunda-feira..No que respeita às empresas criadas através deste incentivo, cujo requisito único é que os indivíduos não aufiram qualquer tipo de rendimentos de trabalho para além dos decorrentes do seu negócio, durante um período de três anos, revelam-se, em média, mais pequenas, apresentando "valores de vendas, ativos totais e capitais próprios mais baixos do que as restantes", aponta a análise..As conclusões da investigação, coordenada por Miguel Ferreira, docente da Nova SBE, e com coautoria de Marta Lopes, Francisco Queiró e Hugo Reis, mostram que os participantes do Montante Único são pessoas "mais velhas e qualificadas", com uma média de salário pré-desemprego na casa dos 1170 euros brutos..Com o capital já do seu lado, é em setores de atividade como "Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis e motociclos", "Atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares", "Indústrias transformadoras" e "Alojamento, restauração e similares" que os empreendedores portugueses tendem a apostar..Quanto ao regime jurídico adotado no momento de criar um negócio, os dados apontam que é quatro vezes mais provável os empreendedores constituírem uma sociedade do que uma empresa em nome individual. Segundo os autores, esta é uma realidade "particularmente relevante em Portugal, uma vez que as sociedades, embora representem apenas 32% das empresas em Portugal, são responsáveis por 76% do emprego e 96% das vendas"..Com a dificuldade no acesso ao capital a constituir um dos principais obstáculos para aqueles que desejam iniciar um negócio, soluções como o Montante Único representam uma oportunidade para criar uma empresa, aumentando "a probabilidade de um indivíduo desempregado se tornar um empreendedor", indica o estudo, que avalia os impactos das restrições ao financiamento no empreendedorismo nacional..Ainda que fatores como a riqueza pessoal, competências, valor do património imobiliário e motivação individual estejam diretamente relacionados com a criação de novos negócios, os autores sustentam que o capital é o ponto-chave para a sua concretização, com "mil euros adicionais de financiamento" a revelarem fazer diferença, aumentando "em 11% a hipótese de um indivíduo se tornar empresário em Portugal"..Quanto a esta probabilidade, "os indivíduos com salários mais elevados pré-desemprego têm maior probabilidade de empreenderem, uma vez aliviadas as restrições de financiamento, do que os indivíduos com salários mais reduzidos", revelam os resultados da investigação..A Mimobox, empresa que oferece um serviço de entrega ao domicílio de caixas surpresa com produtos para grávidas e bebés, e a ReadAction, com atividade na área da comunicação, são dois exemplos de êxito criados através do programa público, que sustentam que o alívio das limitações ao financiamento dos desempregados pode originar negócios de sucesso e, consequentemente, produzir um efeito positivo na "quantidade e qualidade do empreendedorismo em Portugal", concluem os autores..Mariana Coelho Dias é jornalista do Dinheiro Vivo