Aparelho de perda de peso está a chocar médicos americanos
Chama-se AspireAssist, é um novo dispositivo para a perda de peso nos EUA e foi aprovado a semana passada pela FDA - Food and Drug Administration, o organismo norte-americano de fiscalização da alimentação e fármacos, mas está a deixar alguns médicos com os cabelos em pé. Pensado, sobretudo, para combater a obesidade, o aparelho permite que, cerca de meia hora depois da ingestão de alimentos, uma pessoa ligue uma bomba ao estômago para drenar a comida que ingeriu e deitá-la fora.
Várias centenas de médicos norte-americanos já se insurgiram contra este novo método, que acusam de ser perigoso por, ao imitar a bulimia, poder provocar distúrbios alimentares.
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"Esta é a primeira vez que olho para um dispositivo aprovado pela FDA e fico absoluta, completa e totalmente chocado por ter merecido aprovação", disse Joseph Gutman, um endocrinologista e diabetologista de Pembroke Pines, na Florida, que trata pacientes com obesidade há mais de 30 anos.
Gutman afirma que já conseguiu reunir um grupo de 750 médicos dispostos a processar a FDA para obrigarem a agência a retirar o aparelho do mercado. E o seu objetivo máximo é conseguir mobilizar 4000 médicos a juntarem-se-lhe na contestação ao AspireAssist. "Trata-se da mais patética demonstração de ignorância por parte da nossa agência, a FDA. Só pode ser uma brincadeira de mau gosto, uma anedota mal contada", concluiu Gutman
O AspireAssist foi aprovado com base num ensaio clínico que durou apenas um ano e em que só participaram 111 pessoas. A FDA restringe a aplicação do aparelho a pessoas com um Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 35 - ou seja, que estejam já num estado de obesidade severa (grau II) ou mórbida (grau III) - em quem as terapias não-cirúrgicas não tiveram quaisquer resultados e desde que não padeçam de distúrbios alimentares.
Para a colocação do AspireAssist, o paciente é submetido a uma cirurgia no abdómen para que lhe seja instalado um tubo que faz a ligação direta do estômago a uma válvula colocada ligeiramente acima do umbigo. Depois de uma refeição, o doente espera 20 a 30 minutos antes de ligar a bomba à válvula e a comida é bombeada para um recipiente e depois deitada fora.
O processo leva cerca de 10 minutos e pode eliminar até 30% das calorias consumidas numa refeição, segundo afirma Kathy Crothall, presidente da Aspire Bariatrics, empresa produtora do dispositivo e sedeada em King of Prussia, na Pensilvânia, EUA.
Para os médicos que criticam o aparelho, há efeitos colaterais óbvios a ter em consideração. Desde logo, o perigo de infeções criado pela existência de uma válvula no organismo aberta para o exterior. Depois o tubo e válvula podem não ser estanques e permitir fugas do bolo alimentar. Para já não falar no risco de provocar distúrbios alimentares, como a bulimia, em que as pessoas fingem comer ou comem até não poderem mais ("binge eating") e depois provocam o vómito.
"Em vez de se vomitar pela boca, vomita-se por um tubo", diz Joseph Gutman. "Isto é bulimia mecanizada. É um aparelho que faz da bulimia uma coisa boa."
A Aspire Bariatrics contesta esta crítica afirmando que o dispositivo não permite o "binge eating", já que para o bolo alimentar poder passar no tubo, que tem a largura de uma palhinha, sem o entupir as pessoas têm de mastigar os alimentos muito bem. Isso leva a que tenham uma sensação de saciedade mais cedo e comam menos, afirma Shelby Sullivan, que liderou um dos grupos de estudo na Universidade Washington, em St. Louis.
Além disso, segundo a mesma responsável, o AspireAssist leva também as pessoas a alterarem o seu comportamento alimentar e a optarem por comida mais saudável ao verem o que sai dos seus estômagos - a comida mais saudável não fica com tão mau aspeto, diz.
Kathy Crothall, CEO da Aspire Bariatrics, afirma que cerca de 500 pessoas em todo o mundo já usaram o dispositivo e que ele é seguro e eficaz. O AspireAssist já é usado na Europa e a empresa planeia expandir em breve para a Austrália, Canadá, Nova Zelândia e América do Sul.