António Pinho Vargas aposta em editar e divulgar as suas obras mais importantes
"Editar em disco ou colocar nas plataformas digitais aquelas obras minhas que eu considero importantes, bem conseguidas - de que eu gosto!" É esta a preocupação primordial de António Pinho Vargas nesta fase da sua vida. O CD que a partir de amanhã estará nas lojas corresponde pois à primeira variante: "A Warner, ex-EMI, editou vários discos meus no passado. E em 2016 já (re)disponibilizara digitalmente o CD Monodia, de 1995."
Mas António Pinho Vargas teve outros recentes motivos de satisfação: "A Naxos recolocou em todas as suas plataformas a ópera Os Dias Levantados e o CD Versos, agora Verses and Nocturnes. E em 2016 ficou pronto a ser editado - sê-lo-á neste ano - o Concerto para Violino, com mais duas peças." E, antes que finde 2017, "o [violoncelista] Pavel Gomziakov irá tocar e gravar os meus Six Portraits of Pain". Ainda não sabe que mais terá esse CD, mas lança: "Talvez as Onze Cartas?..."
O CD que agora chega às lojas reúne o Magnificat e o De Profundis, duas obras nas quais o coro desempenha papel primordial: "A escrita do Judas e do Requiem [Naxos/2014] confirmou a minha intuição de que escrever para coro e orquestra era afim ao meu território, algo em que tinha qualquer coisa a dizer." E, como não há duas sem três, nasceu o Magnificat, estreado em outubro de 2013. Na esteira da estreia do Requiem e antecipando a do Concerto para Violino, essa ocasião foi, para o compositor, "muito, muito especial, pela resposta do público que pude testemunhar e que provou que a obra conseguira alcançar um patamar de verdade que tocou um conjunto largo e heterogéneo de pessoas".
De Profundis também é para coro. Só para coro: "Eu nunca antes escrevera para coro a cappella, primeiro porque ninguém mo pedira, depois porque não confiava na minha capacidade de escrever para coro solo, pois é algo de muito particular!" Só que houve um impulso irresistível: "Para perceber a obra, é preciso entender as ligações afetivas que se estabeleceram entre mim e o Paulo [Lourenço, maestro], na sequência do trabalho no Requiem e no Magnificat. Logo após a estreia deste, ele pediu-me uma peça para os seus alunos de Coro da [Escola] Superior de Música [ESML]. Escrevi, portanto, esta obra expressamente para ele e ofereci-lha. E o Paulo, quando primeiro a leu, disse-me ao telefone: "António, tu vais permanecer... Esta obra é absolutamente extraordinária!""
A estreia seria na ESML, a 31 de maio de 2014: "Foi impressionante!", recorda. É o "entusiasmo do conseguido - [corrige] do partilhado com o maestro" que está na origem deste disco, sublinha, "cheio de amizades cruzadas". "Se não houver isso, quase que não vale a pena estarmos neste mundo musical, que nos provoca tantas perplexidades, tantas vezes." Para a história, a sua história, fica o episódio em que "uma cantora do Coro Gulbenkian veio ter comigo e disse algo como: "Não nos conhecemos, mas esta música é extraordinária e por ela eu sei que é uma pessoa que sofreu muito." Foi um momento de enorme força emocional e que não esquecerei até à morte".
Episódios assim fazem-no continuar? Ele resiste e, aristotélico, afirma "a potência de compor, como a de não compor" e a necessidade imperativa de "criar algo que "se eleve ao dizer"", isto é, se torne entidade interpelante.
Fica o desejo: "Espero que haja, em breve, uma reestreia do Concerto para Viola que resgate o desastre da estreia, no Convento do Carmo [música pop/de dança ao vivo nas imediações levou a que quase não se ouvisse a obra]. O Risto [Nieminen, diretor do Serviço de Música da Gulbenkian] disse que ia convidar a Diemut [Poppen, dedicatória da obra] para o tocar numa sala cá. Estou a aguardar."