"António Costa preferiu a ambiguidade que adensou o clima de intriga"
"Pedir ao Presidente da República para falar com a procuradora-geral da República não é problema algum", indicou António Lobo Xavier, membro do Conselho de Estado, em declarações à CNN Portugal depois de ter sido acusado pelo primeiro-ministro cessante, António Costa, de ter revelado conversas tidas no âmbito do Conselho de Estado - e portanto confidenciais.
"Não temo que digam que violei a confidencialidade. Não acho que o tenha feito. Mesmo que estivesse acontecido não estou preocupado, pelo modo como vejo a lei e o funcionamento das instituições. O que devemos perceber é aquilo que o socialista Pedro Nuno Santos disse sobre a 'fita do tempo' quando começaram a circular informações sobre o tema. Já aí o primeiro-ministro foi confrontado com a afirmação feita pelo Presidente da República que tinha por sua solicitação, do primeiro-ministro, chamado a procuradora-geral da República", lembrou Lobo Xavier.
Para o conselheiro de Estado, António Costa "preferiu não confirmar, indicando que nunca o disse em público, remetendo, provavelmente para o Conselho de Estado. Mas não fui eu que o revelei. Ou seja, ao invés de negar ou confirmar, António Costa preferiu adensar, mesmo que involuntariamente, uma intriga".
"A atitude que eu próprio faria, era de pedir ao PR que se inteirasse junto da PGR se havia algum problema com ele. Mas António Costa preferiu a ambiguidade que adensou o clima de intriga, não contra mim, mas sim, contra o PR", prosseguiu. "A ambiguidade não serve, é preferível a verdade. No meu entendimento das instituições entre proteger a confidencialidade que evoca um PM que adensa a intriga e do outro lado revelar a verdade prefiro a verdade".
"Não fui eu que trouxe o facto, não fui eu que o revelei em primeira linha, não fui eu que o disse que se passou no Conselho de Estado, foi António Costa que o disse, sublinhando que ao fazê-lo era num âmbito de confidencialidade", garantiu Lobo Xavier à CNN Portugal.
"O PR é o único referente que não está em causa, a ambiguidade conduz a especulações. Querer adensar a intriga tem uma conclusão: tenho que defender a verdade. E cá estarei para as consequências. Se fosse PR procuraria fugir deste clima no qual se arranjam bodes expiatórios para esquecer o essencial. O meu nome não devia estar nos meios. O meu nome é uma pequena manobra de diversão", disse ainda.
Recorde-se que António Costa indicou na segunda-feira, em declarações na Alemanha, que não falou publicamente com António Lobo Xavier, tendo-se escusado e a revelar se e quando pediu ao Presidente da República para chamar ao Palácio de Belém a procuradora-geral da República e lembrou que há "dever de confidencialidade" no Conselho de Estado.
"Não me ocorre ter tido nenhuma conversa pública com o dr. Lobo Xavier. Lembro-me de ter falado com o dr. Lobo Xavier em privado ou em órgãos onde ambos participamos, e onde o dever de confidencialidade impera sobre todos", declarou Costa.
"Como é sabido, e já tive ocasião uma vez de explicar, a propósito de uma outra reunião do Conselho de Estado, a lei até fixa a data a partir da qual está disponível o que é dito e não dito no Conselho de Estado e as respetivas datas e, portanto, é uma questão de aguardar. Creio que é por volta de 2053, portanto sejamos pacientes", disse. "Irritantemente pacientes", acrescentou.