Anti-Dilma e anti-Temer na rua em simultâneo

Hoje é dia de manifestações a favor e contra o <em>impeachment</em> de Dilma pelo país, mas também de ações de protesto contra a sua substituição na presidência por Temer
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À entrada para o mês decisivo das contas do impeachment, grupos a favor e contra a substituição definitiva da presidente afastada Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), pelo presidente em exercício, Michel Temer, do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB), vão hoje para as ruas em dezenas de cidades da maioria dos estados do Brasil. Enquanto no recato dos gabinetes os fiéis às duas partes tentam sorrateiramente assegurar os votos dos 81 senadores, nas ruas os seus apoiantes tentarão ser mais estridentes do que os rivais nos gritos "Fora Dilma" e "Fora Temer".

Do lado dos pró-impeachment, o grupo Vem Pra Rua afirmou que haverá atos em 175 cidades brasileiras, com ênfase para a maior de todas elas, São Paulo, cujo epicentro será na Avenida Paulista, a mais importante artéria da América Latina. A agenda do Vem Pra Rua divide-se em cinco pontos: defender a queda de Dilma, manifestar apoio à Operação Lava-Jato, que investiga crimes de corrupção em torno da empresa estatal Petrobras, lutar pela aprovação das dez medidas de combate à corrupção no Congresso Nacional propostas pelo Ministério Público Federal, exigir a prisão de todos os políticos corruptos e clamar por uma renovação política baseada no fim do foro privilegiado, instituto constitucional que permite aos titulares de cargos públicos sair da alçada dos tribunais de Curitiba que vão liderando a Lava-Jato, sob coordenação do juiz Sérgio Moro.

Os protestos de hoje contra Dilma podem, no entanto, não ter a participação oficial de outros grupos importantes como o Nas Ruas e o Movimento Brasil Livre. "A mobilização não estava boa", admitiu Kim Kataguiri, um dos líderes deste último grupo. Segundo o estudante de Direito, o adiamento sine die do protesto do seu movimento não significa qualquer tipo de rivalidade com o Vem Pra Rua, que confirmou a presença. "Nós também já fizemos manifestações sozinhos, sem a presença de outros grupos", lembra. O Movimento Brasil Livre disse que as suas secções estaduais estão à vontade para organizar protestos, caso sintam que, ao contrário do que se passa em São Paulo, nos seus domínios a adesão está forte.

Do lado contrário, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reúnem quase 50 entidades ligadas a movimentos sociais e a forças sindicais, vão para o terreno sob o lema "Fora Temer" em pelo menos 16 das 26 capitais estaduais do Brasil, com destaque novamente para São Paulo e para as cidades nordestinas, praças tradicionalmente mais próximas do PT. No entanto, revelam, no Rio de Janeiro este protesto pode servir apenas de aquecimento para outros mais fortes a realizar durante os Jogos Olímpicos, com mais visibilidade. Da agenda destes grupos, além da defesa do regresso ao poder de Dilma, estão a exigência de uma reforma política, o repúdio aos retrocessos sociais do governo interino liderado por Temer e o combate pela manutenção de direitos laborais.

Desde março de 2015 - apenas cinco meses após a reeleição de Dilma - já foram convocadas seis manifestações de âmbito nacional contra o governo liderado pelo PT. Nas últimas, no entanto, a população governista também saiu às ruas. E os movimentos, supostamente, apartidários serão mesmo os protagonistas das manifestações porque os partidos adotam um discurso tímido às vésperas dos atos. Lideranças do PMDB, como o próprio Temer, e do PT, como Dilma e Lula da Silva, ainda não asseguraram presença, bem como Aécio Neves, presidente do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), e outros dirigentes tucanos. No entanto, nem Temer nem Dilma têm compromissos oficiais marcados para o fim de semana.

Placard apertado

As manifestações dão-se com o placard do impeachment ainda indefinido, de acordo com as contas dos principais jornais. Segundo O Estado de S. Paulo, 39 dos 81 senadores vão votar a favor da destituição de Dilma, 18 contra e 25 não respondem ou declaram-se indecisos. Para a presidente afastada sair de vez do cargo são necessários os votos de 54 parlamentares. Ela luta por convencer 27. Fontes ligadas ao governo interino declaram, sob anonimato, que o impeachment é garantido. Acrescem notícias na imprensa de que Dilma já faz as malas para regressar à sua casa em Porto Alegre, versão desmentida pela petista, que mantém discurso de confiança na sua continuidade em Brasília.

Em paralelo, e de acordo com uma sondagem recente do instituto Datafolha, a maioria dos brasileiros - 62% - defende a renúncia tanto de Dilma como de Temer, e a consequente realização de eleições. À pergunta "o que seria melhor, que Dilma voltasse para a presidência ou que Temer continuasse até 2018?", 50% optaram pela segunda hipótese, contra 32% que preferem a primeira.

O processo de impeachment partiu de um pedido de três juristas, com base na execução de "pedaladas fiscais", expressão equivalente a manobras orçamentais, e foi aprovado pelo então presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, do mesmo partido, o PMDB, de Temer. Então vice-presidente de Dilma, Temer coordenou a campanha pela destituição da presidente nas votações quer na Câmara quer no Senado, vencendo ambas. Neste mês, em sessão dirigida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, o Senado sentencia o processo. Dilma já disse que vai a plenário defender-se e nesta semana o seu advogado, José Eduardo Cardozo, entregou a sua argumentação oficial aos senadores.

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São Paulo

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