Antes de viajar para a COP26, líderes do G20 chegam a um acordo mínimo sobre o clima

As 20 maiores economias, que são responsáveis por 80% das emissões de carbono, comprometem-se a "continuar os esforços para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius". Atenções viradas agora para Glasgow.
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O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, disse ontem que Itália está orgulhosa do compromisso alcançado em relação ao clima na cimeira do G20 em Roma, lembrando que "este é apenas o começo". Os líderes das 20 maiores economias mundiais, responsáveis por 80% das emissões de carbono, comprometeram-se a "continuar os esforços para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius" em relação aos níveis pré-industriais, sem definir contudo uma data concreta para a neutralidade carbónica. Até 12 de novembro, os olhos estarão postos na cimeira das Nações Unidas sobre o clima em Glasgow (COP26), que arrancou ontem, mas para já o G20 não convenceu os ativistas.

"Se o G20 era um ensaio geral para a COP26, os líderes mundiais equivocaram-se", disse a diretora da Greenpeace, Jennifer Morgan, alegando que os líderes "não estiveram à altura do desafio". Morgan tem usado a analogia de um casamento para a cimeira de Glasgow, onde os ativistas esperam ações concretas e um compromisso firme para manter o aquecimento abaixo dos 1,5 graus Celsius - no Acordo de Paris a meta era ficar abaixo dos 2 graus, de preferência abaixo dos 1,5. "Paris foi a festa de noivado. Agora estamos no casamento, à espera para ver se os países chave e as empresas estão preparados para dizer o "sim"", disse.

Na declaração final da cimeira do G20 de Roma os líderes comprometem-se a "manter o aumento médio das temperaturas bem abaixo dos 2 graus e continuar os esforços para limitar o aquecimento global a 1,5 graus", reconhecendo que o impacto deste último valor é "muito menor" do que o do primeiro. E lembram que essa é uma meta que requer "ações significativas e eficazes e o compromisso de todos os países, levando em consideração diferentes abordagens".

Em relação a essas ações, a declaração fica aquém do esperado: os países comprometem-se a deixar de financiar centrais a carvão no estrangeiro até ao final do ano, mas não fazem referência ao que vão fazer dentro de fronteiras. Ao mesmo tempo, defendem atingir a neutralidade carbónica "até ou à volta de meados do século", quando Itália queria ver a data de 2050. Finalmente, comprometem-se a cumprir a promessa de contribuir para mobilizar anualmente cem mil milhões de dólares para os países menos desenvolvidos poderem adaptar-se às alterações climáticas.

"Apesar de acolher o novo compromisso do G20, saio de Roma com as minhas esperanças por cumprir - mas pelo menos não estão enterradas", disse no Twitter o secretário-geral da ONU, António Guterres. Hoje estará em Glasgow.

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A discussão promete continuar na COP26, que ontem começou na cidade escocesa, mas que a partir desta segunda-feira contará com a presença de mais de uma centena de líderes mundiais. Mas, tal como em Roma, haverá ausências físicas de peso. A maior é a do presidente chinês Xi Jinping, com Pequim a anunciar contudo que ele irá participar no debate via vídeo. A China é o maior poluidor mundial, responsável por quase um terço das emissões de carbono mundiais, e tem prevista a abertura de mais 230 centrais a carvão nos próximos anos. O fim do carvão é um dos temas desta cimeira.

Outra ausência é a do presidente russo, Vladimir Putin, não se sabendo se irá participar à distância. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, lembrou contudo que as alterações climáticas são "uma das mais importantes prioridades" da política externa de Moscovo. Quem esteve em Roma, mas não estará em Glasgow é o presidente brasileiro. Em vez de viajar para a Escócia, Jair Bolsonaro prefere ficar em Itália e receber esta segunda-feira o título de cidadão honorário da cidade de Angillara Vaneta (na região de Véneto), de onde a sua família emigrou há mais de um século. Bolsonaro, e o seu governo, tem sido alvo das críticas mundiais por causa da desflorestação da Amazónia.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que é o anfitrião da COP26, exortou em Roma os líderes mundiais a comprometerem-se com um corte das emissões de carbono. "Se Glasgow falhar, tudo falha", defendeu numa conferência de imprensa ainda na capital italiana, sendo que horas antes, na cidade escocesa, o presidente da COP26, Alok Sharma, lembrava que esta é "a última e melhor esperança" para manter viva a meta de limitar o aquecimento a 1,5 graus.

"A pressão sobre os líderes mundiais é enorme. Nós fizemos progressos razoáveis, mas não é suficiente", acrescentou Johnson em Roma, lembrando que "não há desculpas convincentes para a procrastinação" e que o mundo já está a ver "a devastação causada pelas alterações climáticas".

Em Glasgow, a Organização Meteorológica Mundial indicou que os sete anos entre 2015 e 2021 foram provavelmente os mais quentes de que há registo. Com base nos dados dos primeiros meses, a média em 2021 deverá rondar os 1,09 graus acima do nível pré-industrial (mais baixa do que em anos anteriores pelo La Niña, fenómeno que causou algum arrefecimento).

susana.f.salvador@dn.pt

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