Com um concerto dos Ornatos Violeta, o Pavilhão Rosa Mota abre nesta quinta-feira as portas ao público com polémica pelo meio. A designação oficial passa a ser Arena Super Bock - Pavilhão Rosa Mota, o que motivou o descontentamento da medalhada olímpica portuense. Por ver o seu nome secundarizado, Rosa Mota faltou à reinauguração do pavilhão no Palácio de Cristal, teve o apoio de muitos portugueses. Rui Moreira defendeu-se e argumentou que o nome da atleta nunca teve inscrição visível na fachada e que a nova designação resulta do acordo com o concessionário. Não foi a primeira polémica numa reinauguração do espaço - e já vamos na terceira, as outras foram em 1956 e em 1991, ano em que recebeu o nome de Pavilhão Rosa Mota..No Porto será sempre conhecido como o Palácio de Cristal, mesmo que o edifício original com este nome tenha sido demolido na década de 1950, momento que na época dividiu a cidade. Nasceu então o Pavilhão dos Desportos, construído a pensar no Campeonato do Mundo de hóquei em patins que Portugal viria ali a conquistar em 1952. Houve mais quatro mundiais de hóquei no mesmo pavilhão, espaço que recebeu eventos hoje assinalados na história nacional, como o primeiro congresso do CDS, em 1985, em que aconteceu o famoso cerco, o 10.º congresso do PCP, em 1983, com Mikhail Gorbachev a presidir à delegação soviética, ou o encontro com o Dalai Lama, em 2001, no âmbito do Porto - Capital Europeia da Cultura..Inspirado no Crystal Palace de Londres, gigantesca edificação de ferro e vidro que tomou forma em Hyde Park para a Exposição Mundial de 1851 e que também acabou destruída pelo fogo na década de 1930, o Palácio de Cristal foi uma aposta da cidade, numa época em que a indústria portuense se fortalecia e havia uma grande influência britânica. Foi um grupo de industriais, da então Associação Industrial Portuense, que lançou mãos à obra. O objetivo inicial do edifício de granito, ferro e vidro era receber a Exposição Internacional do Porto. Projetado pelo arquiteto inglês Thomas Dillen Jones, com a primeira pedra a ser lançada em 1861, o palácio foi inaugurado em 1865, com a presença do rei D. Luís e de dona Maria Pia e a exposição teve a participação de 4300 expositores de 25 países. Media 150 metros de comprimento, 72 de largura e estava dividido em três naves..Apesar da pompa, o Palácio de Cristal viveu sempre com dificuldades financeiras e, anos mais tarde, em 1933, o edifício e os jardins foram adquiridos pela Câmara Municipal do Porto, por dois mil contos. Nessa altura, já tinha albergado dezenas de exposições, como a agrícola, em 1903, ou a de automóveis, em 1914. O automóvel, uma novidade na época, teve mais quatro mostras no local até 1933..Em 1934, o governo de Salazar organizou no Palácio de Cristal a Exposição Colonial do Porto, numa tentativa de projetar o Estado Novo como símbolo de modernidade. Foi um evento de grandes dimensões, nos jardins circulou um comboio e havia um teleférico. Milhares de pessoas visitaram o Palácio..Nos anos seguintes, o declínio acentua-se até chegar à década de 1950. Ainda se realizava festas mas as grandes exposições tinham acabado e é atribuída a Portugal a organização do Mundial de hóquei em patins de 1952. E o Porto foi escolhido para ser a sede. Com o edifício praticamente em ruínas e, segundo arquitetos, irrecuperável, o torneio de hóquei foi um bom pretexto. Em dezembro de 1951 já tinha sido iniciada a demolição do espaço, de forma algo secreta, segundo relatos da época, devido aos receios de descontentamento dos portuenses. Mas quase tudo desapareceu (a frontaria ainda ficou alguns anos) e ali surgiu um novo edifício, com a célebre cobertura em forma de esfera a ser instalada já depois da inauguração..O projeto, do arquiteto José Carlos Loureiro, previa mais construções mas, por falta de dinheiro, confinou-se ao pavilhão. Em junho de 1952, o Mundial arrancava ali sem que a construção estivesse acabada. Foi disputado quase a céu aberto e Portugal ganhou, com triunfo na final sobre a Itália, por 4-0..Quatro anos depois, na reinauguração oficial, já com a obra terminada, o Mundial da modalidade regressou ao Pavilhão dos Desportos do Porto e Portugal voltou a ganhar. Nas décadas realizaram-se ali mais três campeonatos do mundo de hóquei em patins, 1958, 1968 e 1991, com a seleção portuguesa a vencer as cinco edições ali disputadas..O cerco ao Congresso do CDS.Além de eventos desportivos, o novo Pavilhão dos Desportos acolheu nas décadas seguintes feiras industriais - até à criação da Exponor, em Leça da Palmeira, espetáculos de circo e musicais e também vários congressos ou comícios políticos. Foi o caso do célebre primeiro congresso do CDS em 25 de janeiro de 1975..O Palácio de Cristal, como sempre foi conhecido, foi cercado por elementos da extrema-esquerda, num período pós-revolução de grande agitação político-partidária. Apesar da confusão junto aos portões, com os militantes do partido democrata-cristão retidos no interior, o congresso foi concluído..Em 1983, no dia 18 de dezembro, discursou um homem que mais tarde seria determinante para o fim da União Soviética. Mikhail Gorbachev participou no X Congresso do PCP como chefe da delegação soviética. Os comunistas voltaram ao Palácio em 1988 e em 1996 para ali realizar congressos..Em 1990, o pavilhão estava degradado e sem capacidade para receber eventos desportivos de alta competição e já se pensava na sua remodelação. Rosa Mota tinha sido campeã olímpica da maratona em 1988, em Seul, e a autarquia decidiu logo nesse ano atribuir o nome da atleta portuense ao pavilhão. A designação tornou-se oficial em 1991 com a reinauguração do espaço após obras de remodelação. Mais uma vez foi o hóquei em patins a modalidade de estreia com mais um campeonato do mundo. Dos jardins saía também a feira popular..Havia o objetivo de tornar o pavilhão um grande espaço polivalente, à imagem do francês Paris-Bercy, e dos primeiros anos de 1990 até ao início deste século até existiu atividade diversa. O FC Porto utilizou o recinto para os jogos de basquetebol, houve um Campeonato Europeu de Futsal e um jogo de exibição dos basquetebolistas Harlem Globetrotters, entre outros..O Porto 2001 também recorreu ao espaço. Cinco mil pessoas encheram o Pavilhão Rosa Mota para ouvir o Dalai Lama, com o líder espiritual dos budistas a ser convidado pela Capital Europeia da Cultura..As feiras do livro e os concertos.As feiras do livro do Porto viveram várias edições no Rosa Mota, atraindo milhares de pessoas. Hoje, realiza-se no exterior, nos jardins. Os concertos de nomes como Bryan Adams e Blondie também passaram pelo Rosa Mota, tal como diversos certames como feiras de emprego, tecnologia ou saúde, eventos de columbofilia ou de fitness. Nos anos mais recentes, as congregações religiosas também recorreram ao espaço, onde se realizaram espetáculos de música popular organizados por rádios do Porto que concentraram multidões..Mas a meta ambiciosa de ter um pavilhão multifunções para a cidade esvaziou-se. Novamente degradado e sem condições de segurança, exigia obras de monta. Com Rui Rio na câmara, preparou-se uma nova remodelação. Chegou a haver projeto, nunca concretizado, com a nova transformação do pavilhão a avançar apenas em 2017 com Rui Moreira. O modelo escolhido foi a entrega a privados, que financiaram a remodelação e assumem a concessão durante 20 anos. Há um investimento de mais de oito milhões de euros e o pavilhão fica com "capacidade para acolher até oito mil pessoas em eventos culturais, desportivos e empresariais". A arena tem capacidade para 5500 lugares sentados..Com condições acústicas melhoradas, já não será o hóquei em patins a inaugurar o agora Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota. Um duplo concerto da banda portuense de culto Ornatos Violeta, na quinta e na sexta-feira, fazem a abertura do novo espaço. Há outros espetáculos já agendados como o projeto Amar Amália (16 de novembro), Lisbon Film Orchestra (8 de dezembro), Rui Veloso (14 de dezembro) ou Carmina Burana (28 de dezembro).