Ansu Fati estreia-se na seleção espanhola de sub-21

O avançado do Barcelona, de 16 anos, nascido na Guiné-Bissau e detentor de nacionalidade espanhola desde setembro, foi esta sexta-feira convocado pela primeira vez para a seleção espanhola de sub-21, em substituição de Carles Pérez.
Publicado a
Atualizado a

A estreia de Ansu Fati nos eleitos de Luis De la Fuente surge um dia depois de a FIFA ter informado a Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) da validação da documentação enviada para o tornar selecionável para as seleções espanholas.

Ansu Fati foi chamado para substituir o seu colega de equipa Carles Pérez, que saiu dos convocados devido a problemas musculares, e a sua integração na preparação do jogo frente a Montenegro, na terça-feira, de qualificação para o Europeu 2021, será feita o mais rápido possível.

Fati tornou-se em 31 de agosto, em Pamplona, o jogador mais jovem a marcar pelo Barcelona na Liga espanhola, com 16 anos e 304 dias, destronando o hispano-sérvio Bojan Krkic, numa lista de precocidade em que o astro argentino Lionel Messi surge em terceiro lugar.

Recentemente, em 20 de setembro, o Conselho de Ministros aprovou a proposta da ministra da Justiça, Dolores Delgado, e a atribuição, por decreto real, da nacionalidade espanhola, na sequência de um pedido submetido pela RFEF e apoiado pelo Conselho Superior de Desportos (CSD).

Em 2013, Ansu Fati deixou os escalões de formação do Sevilha para assinar pelo Barcelona, com o qual tem um contrato de acordo com a legislação da FIFA prevista para menores de idade até 2022, com uma cláusula de rescisão de 100 milhões de euros.

Viveu no Algarve em criança

Ansu Fati nasceu na Guiné-Bissau em 2002 (16 anos) e mudou-se para a Andaluzia aos seis anos de idade, algum tempo após o pai ter arranjado um emprego na construção da linha de comboios de alta velocidade entre Córdoba e Málaga, depois de ter vivido quatro anos no Algarve.

Foi na Andaluzia que começou a dar os primeiros passos no futebol, em 2008. Numa entrevista à rádio Cadena COPE, Boris Fati admitiu que por essa altura não fazia a mínima ideia que o filho tinha tanto talento. "Sabia que ele jogava com os outros miúdos na rua, mas como trabalhava muitas horas e estava sempre fora nunca tinha visto", revelou o antigo jogador do Benfica de Bissau. "Ansu dizia-me que queria jogar futebol, até que um dia fui levá-lo à escola de futebol de Herrera e segui para o trabalho. Quando voltei a casa, por volta da meia-noite, tinha várias pessoas à minha porta, que me vieram perguntar se sabia o que tinha ali", revelou.

As notícias sobre o talento de Ansu correram depressa e, poucos dias depois, Pablo Blanco, diretor da formação do Sevilha, apareceu em sua casa para levar o jovem prodígio que então tinha sete anos, foi então assinado um contrato de formação. Contudo, depois apareceram emissários do Real Madrid e do Barcelona à porta de casa de Boris, em Herrera. Os merengues até ofereciam melhores condições, mas como na altura não tinha residência para os jovens jogadores no centro de estádio, em Valdebebas, e perante a insistência do Barcelona, que queria levar também o irmão Braima, cinco anos mais velho, acabou por assinar contrato com os catalães.

Assim que souberam do contrato assinado com o Barcelona, os dirigentes do Sevilha chamaram Boris para uma reunião, onde cobriram a oferta do Barcelona, mas a decisão estava tomada. Os andaluzes decidiram então não ceder o passe do jovem, que foi obrigado a estar um ano sem jogar oficialmente pelos blaugrana, jogando apenas particulares até acabar o contrato com o Sevilha.

Aos 10 anos, Ansu e a mãe mudam-se para Barcelona - o irmão Braima já estava em La Masia -, onde depressa de tornou uma das maiores promessas da academia do clube. A evolução foi tão rápida e extraordinária que aos 16 anos foi convocado pelo treinador Ernesto Valverde para o jogo com o Betis. "O Ansu telefonou-me a dizer que estava convocado, ao princípio pensava que ele estava a brincar, mas depois quando percebi que era verdade desatei a chorar, e a minha mulher também", revelou Bori à Cadena COPE, acrescentando que, no estádio, quando a família o viu entrar em campo aos 78 minutos nem queriam acreditar: "Pusemos as mãos à cabeça, estávamos nas nuvens."

Federação Guineense tranquila

A obtenção da nacionalidade espanhola pelo futebolista guineense Ansu Fati "não constitui um problema", disse recentemente à agência AFP o vice-presidente da federação de futebol da Guiné-Bissau.

"Vários dos jogadores que jogam na nossa seleção têm também dupla nacionalidade. A detenção de nacionalidade espanhola não apaga a sua nacionalidade de origem. Ele é guineense", afirmou Celestino Gonçalves, em declarações à agência noticiosa francesa.

"Ainda não contactámos o pai do Ansu Fati, Bori, que também era um bom futebolista, apesar de não ter tido oportunidade de jogar na seleção. Os conselhos do Bori serão determinantes para a escolha de o Ansu jogar ou não pelos djurtus", prosseguiu Celestino Gonçalves.

Recordes de precocidade aos 16 anos

Ansu Fati é neste momento o jogador sensação do futebol mundial. Com apenas 16 anos e 298 dias foi lançado na equipa principal do Barcelona a 25 de agosto num jogo com o Bétis no Camp Nou. Foram apenas 12 minutos em campo, mas o suficiente para se tornar o segundo mais jovem de sempre a a vestir a camisola blaugrana, apenas superado por Vicent Martínez, que em 1941 entrou em campo com menos 18 dias que a agora nova coqueluche do Barça. No final do jogo recebeu um prémio de sonho: um forte abraço do ídolo Lionel Messi, cuja foto foi publicada pelo argentino no Instagram.

Seis dias depois, Fati voltou a destacar-se ao tornar-se o jogador mais jovem de sempre dos catalães a marcar o primeiro golo na Liga espanhola: foi frente ao Osasuna, em Pamplona.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt