As perturbações psiquiátricas mais frequentes na população portuguesa são a ansiedade (16,5 por cento) e a depressão (7,9), segundo os primeiros resultados do estudo epidemiológico nacional de saúde mental hoje divulgado em Lisboa..Na tabela de perturbações detectadas nos portugueses mostrada pelo responsável pelo estudo, Caldas de Almeida, estão ainda o "controlo impulsivo" (3,5 por cento) e o abuso e dependência de álcool (1,6 por cento)..No subgrupo das ansiedades, a perturbação mais frequente é a fobia específica (8,6 por cento) que, segundo o director da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, na sua "maioria, não é grave"..O também coordenador nacional para a saúde mental considerou ainda que a taxa de 2,3 por cento de stress pós-traumático "é mais baixa do que se julgava"..Em termos de depressão, a "grave" apresentou uma prevalência de 6,8 por cento..Quanto ao "controlo impulsivo", os maiores números relacionam-se com o "impulso explosivo intermitente" (1,8 por cento), ilustrado pelo especialista com "zangas na estrada". .O inquérito mostrou uma prevalência de 6,3 por cento de doenças psiquiátricas graves em Portugal, enquanto no 'líder' mundial Estados Unidos o valor é de 7,7 por cento..Caldas de Almeida sublinhou que uma "parte significativa (33,6 por cento) destes casos graves não tiveram qualquer tratamento.."Estes casos precisam provavelmente de cuidados especializados", notou..Paralelamente, referiu que apenas 35 por cento das depressões só foi tratada no ano em que se iniciaram as queixas e que a mediana mostra cinco anos entre as primeiras queixas e o tratamento. No caso das perturbações de pânico, essa mediana é de dois anos e só cerca de metade teve contacto com serviços clínicos.."Pode ser porque as pessoas não vão ao médico por causa do estigma e da vergonha da doença", avançou Caldas de Almeida..O estudo mostrou que quase 23 por cento dos portugueses teve uma perturbação psiquiátrica nos 12 meses anteriores ao inquérito, uma taxa que, segundo Caldas de Almeida, se deve em boa parte aos casos de ansiedade e de controlo..Ao longo de toda a vida, há uma "prevalência altíssima" de 42,7 por cento de perturbações mentais..Sem surpresas e em linha com outras investigações, os factores associados a doenças mentais são o sexo feminino, o grupo etário entre os 18 e os 24 anos, o estado civil divorciado/viúvo ou separado e o nível baixo/médio de literacia..O estudo teve uma amostra total de 3849 indivíduos adultos de 258 localidades, tendo os inquéritos sido realizados por 150 entrevistadores, que chegaram a ter inquéritos com uma duração de quatro horas..O estudo insere-se num consórcio internacional liderado pela Organização Mundial de Saúde e a Universidade de Harvard. O próximo encontro deste consórcio acontecerá em Lisboa, em Julho..Em Portugal, contou com o apoio do Alto Comissariado para a Saúde e fundações Calouste Gulbenkian e Champalimaud..Espera-se para "breve" o relatório nacional que, segundo a Alta Comissária para a Saúde, Maria do Céu Machado, pode ajudar a melhorar a actuação das autoridades. A responsável repetiu o alerta para se "desenvolverem estratégias diferentes" em função do género: "As mulheres são mais susceptíveis de serem ansiosas, mas os homens lideram as taxas de suicídio".