Anomalisa. Um filme de animação sem fadas nem monstros
É relativamente simples resumir o ponto de partida de um filme como Anomalisa (estreia quinta-feira). Tudo acontece em torno de Michael Stone, especialista em "auto-ajuda" que está em Cincinatti para uma conferência sobre o seu novo livro; cansado das suas próprias rotinas, marca encontro com Bella, uma antiga namorada, mas a conversa corre muito mal - até que Stone depara com Lisa, uma figura de aparência frágil que está em Cincinatti para assistir à sua apresentação...
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História das ilusões e desilusões da idade adulta? Fábula sobre as enigmáticas diferenças entre o movimento amoroso e a pulsão sexual? Crónica sobre um mundo sustentado por uma teia de "comunicações", "partilhas" e "ajudas", mas em que, de facto, as pessoas se sentem cada vez mais sós? Um pouco de tudo isso, sem dúvida. Apetece até lembrar que conhecemos muitos filmes construídos a partir do mesmo misto de esperança e angústia. Resta saber se alguma vez vimos tais temas e situações tratados em... cinema de animação.
É verdade: realizado por Charlie Kaufman e Duke Johnson, Anomalisa foi fabricado com bonequinhos e outros objectos manipulados imagem a imagem ("stop motion"). No entanto, ao contrário da tradição do género, não aborda mundos mais ou menos alternativos e fantasistas, com fadas e monstros, propondo antes uma história dos nossos dias, com temas e personagens adultas. A presença na lista de nomeados para o Óscar de melhor longa-metragem de animação não pode deixar de envolver uma desconcertante ironia: por um lado, foi feito com o mesmo tipo de técnica de A Ovelha Choné, produzido pelos estúdios britânicos Aardman; por outro lado, a sua discreta carreira comercial nas salas dos EUA coloca-o num campeonato muito diferente do favorito Divertida-Mente, o mais recente sucesso da Pixar com distribuição dos estúdios Disney.
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Do desenho tradicional ao digital
Ainda assim, na história recente da animação cinematográfica, Anomalisa não pode ser considerado um objecto isolado. Além do mais, convém não esquecer que a técnica que utiliza é conhecida desde os tempos heróicos do cinema mudo. Uma das primeiras grandes aventuras do sonoro, King Kong (1933), de Merian C. Cooper e Ernest B. Shoedsack, utilizava os seus recursos, mais tarde especialmente importantes nas aventuras concebidas pelo mestre dos efeitos visuais Ray Harryhausen (1920-2013), em títulos como A 7ª Viagem de Sinbad (1958), Os Argonautas (1963) ou O Vale dos Monstros (1969). Figura nuclear neste processo tem sido Tim Burton, como realizador e produtor, através de experiências em que o macabro não exclui o poético, como O Estranho Mundo de Jack (1993), A Noiva Cadáver (2005) ou Frankenweenie (2012).
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