Consulta dos Bebés Irritáveis atende 30 famílias/ano

Muitas horas de choro, noites sem dormir e preocupação constante são os "sintomas" mais reportados na Consulta dos Bebés Irritáveis da Unidade de Primeira Infância do Hospital D. Estefânia, onde são atendidas em média 30 crianças por ano.
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"Um bebé irritável é aquele que os pais consideram irritável. É difícil de acalmar, frequentemente dorme mal e tem birras além do expectável. É um bebé com que os pais têm muita dificuldade em lidar", define Pedro Caldeira da Silva, responsável daquela Unidade.

A definição é ampla, porque nela cabem bebés muito diferentes, com reações distintas em relação ao seu meio ambiente e ao seu relacionamento familiar.

Dois pedopsiquiatras, duas enfermeiras especialistas em saúde mental, uma psicóloga e uma assistente social vão além da paciência e da resignação, procurando as causas do choro intenso dos bebés.

Nesta consulta, a pesquisa inicial passa por conhecer as características individuais de cada um com o objetivo de "melhorar a vida" das crianças e das famílias.

Pedro Caldeira da Silva explica que perceber a reação de cada bebé aos estímulos é a chave para resolver os problemas: "Há bebés que no momento do sono precisam do contacto pele a pele para se acalmarem e há outros que não suportam estar em contacto".

Mas há bebés realmente deprimidos, que têm "problemas de humor", geralmente provocados pelas relações que estabelecem com as pessoas que deles tratam.

A depressão materna está muito associada aos bebés irritáveis, revela o pedopsiquiatra, indicando que pode ser a própria irritabilidade do bebé a desencadear a depressão na mãe e não o contrário.

"Depressão materna e irritabilidade vêm muito em conjunto e é preciso quebrar ciclos viciosos", argumenta.

Depois do diagnóstico, o "tratamento" tanto pode incidir no bebé como num dos pais: "Ao fazermos a observação da criança e da família vemos onde podemos ajudar com mais eficácia. Há casos em que o apoio psiquiátrico deve ser dado a um dos pais. E por uma reação em cadeia pode resultar numa melhoria global e da criança".

É por volta dos seis meses que começam a chegar bebés a esta consulta: uma altura que coincide com o regresso das mães ao trabalho e em que a "desculpa" das cólicas já não encaixa.

As consultas são gratuitas e sem referenciações complicadas, bastando um telefonema dos pais. Mas Pedro Caldeira da Silva avisa que é fundamental garantir primeiro que o choro não tem causa orgânica:"Quando há choro excessivo a primeira coisa a fazer é ir ao médico assistente. A ajuda da saúde mental vem numa segunda linha".

Seis anos depois da abertura desta consulta, a equipa de Pedro Caldeira da Silva está agora a estudar os resultados que conseguiu e, para já, a "impressão clínica" é a de "uma elevada taxa de sucesso".

"Conseguimos resolver a grande maioria das situações em seis consultas, ou menos, mas não podemos dar sempre esta garantia", afirma o responsável.

Quase por oposição aos "Bebés Irritáveis", a mesma equipa criou recentemente a consulta para "Bebés Silenciosos", numa tentativa de responder a bebés com muita dificuldade de relacionamento e de envolvimento com as pessoas e o ambiente.

"Estes bebés que não dão muito trabalho podem passar despercebidos. Podem estar muito tempo sem se envolverem com alguém, justificando-se o olhar de um especialista", explica Caldeira da Silva.

Grandes dificuldades de relacionamento e de envolvimento podem ser os primeiros sinais de uma perturbação do espetro do autismo. Uma intervenção precoce, antes do primeiro ano de vida, pode mesmo mudar a vida destas crianças, acredita o pedopsiquiatra.

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