Animais de hoje e de ontem desfilam neste "Carnaval"
Há aves, leões, elefantes, cangurus, há animais que reconhecemos imediatamente e outros que talvez não sejam tão óbvios. Há dinossauros e centauros e vá-se lá saber que mais. "Não é importante que as pessoas reconhecem todos os animais representados", apressa-se a explicar o coreógrafo Victor Hugo Pontes. Isto é Carnaval. O carnaval é um momento de máscaras e de enganos, de faz-de-conta e de divertimento.
Na sua primeira colaboração com a Companhia Nacional de Bailado (CNB), Victor Hugo Pontes foi desafiado por Luísa Taveira a trabalhar a partir de O Carnaval dos Animais, de Camille Saint-Saëns. Mas depressa perceberam que a peça de 1886, com apenas 24 minutos, não poderia ser usada sozinha. "Havia várias possibilidades", explica o maestro Cesário Costa, diretor musical do espetáculo. "Podíamos escolher obras de outros compositores, que estivessem de acordo com a temática. Podíamos convidar um compositor para fazer uma segunda parte da peça. Mas decidimos fazer outra coisa. O que Saint-Saëns fez neste Carnaval foi utilizar temas de Rameau de Offenbach, de canções infantis francesas, citações de outras composições suas. Partindo disso, convidámos 12 compositores a juntarem-se à obra. Cada um deles tinha um animal e tinha de escrever cerca de quatro minutos."
Sérgio Azevedo, Carlos Caires, Eurico Carrapatoso, Andreia Pinto Correia, Nuno Corte-Real, Pedro Faria Gomes, Mário Laginha, João Madureira, Carlos Marecos, Daniel Schvetz, Luís Tinoco e António Pinho Vargas foram os compositores que aceitaram o desafio. e a ideia, diz o coreógrafo, era fazer uma espécie de cadavre-exquis musical.
Como explica Cesário Costa: "Intercalámos uma peça de Saint-Saëns com uma peça nova. A cada compositor dissemos apenas onde é que a sua peça ia ficar, ele tinha a opção de fazer algo completamente diferente ou algo mais orgânico. Tinha total liberdade. Não houve a preocupação de criar uma coerência, antes pelo contrário, procuramos manter o universo de cada peça, de cada animal, com a sua sonoridade específica. O contraste é que faz o todo."
Para Victor Hugo Pontes não é uma novidade trabalhar a partir do movimento dos animais - já o tinha feito em Zoo, em 2013, pelo que grande parte da pesquisa já tinha sido feita. "Numa primeira parte nós temos quase como um desfile de animais."
Os bailarinos (quando estão todos em palco são 37) estão vestidos com roupas e sapatilhas coloridas, de padrões que evocam alguns animais, embora não necessariamente aqueles que eles estão a interpretar. Não se trata tanto de encarnar um animal, trata-se apenas de evocá-lo. Às vezes basta um braço no ar, o movimento de uma mão, o modo como viram a cabeça de um lado para o outro. Uma dança colorida e carnavalesca.
Algo que se torna ainda mais visível na segunda parte do espetáculo, quando todos mudam de roupa, para tons cremes, todos de igual. Aí, passamos do carnaval para a quarta-feira de cinzas, explica Victor Hugo Pontes. "É quando olhamos para o passado, suportado por aquela frase - lembra-te que és pó e ao pó hás de voltar - e temos os dinossauros, os fósseis, os animais mitológicos."
E, por fim, o último corso, em que, com todos em palco, vamos recordar todos os animais que passaram por ali, dos flamingos às tartarugas. Aqui, já muito longe da imitação inicial, apenas quase como a apresentação de um elenco. O fim do carnaval.
Carnaval
Coreografia de Victor Hugo Pontes
Teatro Camões, Lisboa
A partir de hoje e até dia 26
Bilhetes 5 euro até 30 euro