Animais à solta ao som da guitarra de Carlos Paredes

Membros dos Belle Chase Hotel e do Quinteto de Coimbra recuperaram um projeto nascido em 2003 e voltaram a reunir-se para homenagear o maior mestre da guitarra portuguesa no disco<em> Animais - 15 Anos sem Paredes</em>, editado esta sexta-feira
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Foi em 2003, celebrava-se então Coimbra como Capital Nacional da Cultura, quando um coletivo de músicos locais, formado por membros dos Belle Chase Hotel e do Quinteto de Coimbra, se reuniram em palco para homenagear a maior figura musical da cidade, o mestre Carlos Paredes. O espetáculo Mondego Chase, como foi então batizado, estreou-se no palco do Teatro Académico de Gil Vicente e apenas foi replicado mais algumas vezes ao vivo.

Para a posteridade, e além das memórias de quem assistiu aos concertos, ficou uma única versão de estúdio do tema Verdes Anos, incluída mais tarde em Movimentos Perpétuos, uma coletânea de homenagem a Carlos Paredes, editada nesse mesmo ano e que reuniu nomes como Sam the Kid, Dead Combo, Rodrigo Leão, António Pinho Vargas, Maria João e Mário Laginha, entre muitos outros. Uma falta finalmente corrigida agora, 17 anos depois, com a edição do álbum Animais - 15 Anos sem Paredes, que é hoje editado.

"Foi Pedro Lopes, do Quinteto de Coimbra, que na altura nos desafiou", recorda Pedro Renato, antigo integrante dos Belle Chase Hotel, que além de "tocar todos os instrumentos" no novo disco assumiu também a produção do mesmo. À dupla juntou-se ainda Ricardo Dias (Quinteto de Coimbra) na guitarra portuguesa e Raquel Ralha, ex-membro de grupos como Belle Chase Hotel e Wraygunn, na voz, com quem formam o núcleo central do renovado projeto Animais, que conta ainda com a participação de Luís Pedro Madeira (Belle Chase Hotel e Wraygunn) nas teclas, de Sérgio Costa (Belle Chase Hotel e Real Combo Lisbonense) no baixo, de Luís Formiga (Mancines) na bateria e de João Rui (A Jigsaw), também na voz.

"Foi um projeto que guardámos no nosso coração com algum carinho, porque nos deu na altura um gozo imenso e também por isso tínhamos os arranjos ainda bem presentes na memória", salienta Pedro Renato, para quem a principal diferença para 2003 foi exatamente o tempo que entretanto passou. "A formação é a mesma, mas já não somos as mesmas pessoas, tanto a nível pessoal como musical, e isso sente-se no resultado final."

"A parte instrumental, por exemplo, é uma consequência daquilo que todos ouvimos agora", sublinha. O trabalho é composto por oito temas, todos da autoria de Carlos Paredes, entre os quais os icónicos Verdes Anos ou Canção de Alcipe, que o coletivo recriou de forma bastante livre. "Na altura, quando apresentámos o espetáculo inicial, mantivemos a essência instrumental dos temas de Carlos Paredes, mas desta vez mudámos algumas coisas e isso deu-nos um grande gozo. A principal diferença é que desta vez colocámos vozes nalgumas das faixas", explica Pedro Renato.

Mal se voltaram a reunir, "tornou-se certo para todos" que não podiam manter o mesmo conceito inicial. No disco "o objetivo era precisamente o de assumir um formato mais próximo da canção" e tal, segundo o músico, "só poderia ser conseguido a partir de momentos dos temas originais e nunca a da sua totalidade". Pedro Renato tem perfeita noção de que tal significou entrar por territórios perigosos, quase do domínio do sagrado e que alguns ouvidos mais puristas não lhe perdoarão a profanação. "Muita coisa neste projeto é um verdadeiro sacrilégio, porque as composições do Carlos Paredes são autênticas odisseias musicais, que passam por vários andamentos e estilos musicais e nós acabámos por estraçalhar aquilo tudo", reconhece com humor.

E Carlos Paredes, como reagiria ele a tal afronta? "Nunca saberemos, mas se calhar até ia gostar", arrisca Pedro Renato, lembrando em seguida a reação do mestre, quando, já muito doente, ouviu a tal versão discográfica de Verdes Anos: "Contaram-me que se emocionou e isso, para mim, foi o maior elogio que poderíamos alguma vez receber." Agora, tal como então, o objetivo é novamente levar toda esta música para o palco. O primeiro espetáculo está já marcado para o dia 24 de abril, no mesmíssimo local onde tudo começou há 17 anos, no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra.

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