Angrajazz celebra cinco centenários com os olhos no futuro
O Festival Internacional de Jazz de Angra do Heroísmo, Angrajazz, chega ao 19.º ano com novidades. Pela primeira vez vai apresentar, além do programa de concertos, jam sessions e ações de divulgação no centro da cidade Património da Humanidade, com acesso livre, com o objetivo de cativar mais público para o festival entre os locais e os turistas que visitam a ilha Terceira, nos Açores. Uma edição que celebra cinco centenários do jazz - Ella Fitzgerald, Lena Horne, Dizzy Gillespie, Tadd Dameron e Thelonious Monk - hoje no concerto de abertura tocados pela orquestra da "casa".
"Vamos ter sete concertos em vez de seis, que é uma forma de aproveitar o feriado de quinta-feira. Temos concertos duplos na quarta, na sexta e no sábado, e a juntar a esses temos sete concertos na rua em locais públicos de acesso livre onde participam duas bandas locais, o Wave Jazz Ensemble e o Sara Miguel Quarteto, assim como o Mano a Mano, que é o projeto do Bruno e do André Santos, que estão a lançar o seu segundo CD", explica Miguel Cunha, um dos elementos da associação Angrajazz, que organiza o festival. Esta "extensão", que acontece já por estes dias (começou na sexta-feira) e abraça o festival a partir desta noite até sábado, resulta de uma parceria com a Direção Regional de Cultura dos Açores. "Desafiaram-nos, deram-nos algumas condições e avançámos em parceria, o que permitiu planear as coisas com antecedência e levar o festival para a rua, para trazer mais pessoas, sair de portas e toda a cidade ter um pouco de jazz com o objetivo de tornar o festival mais falado, mais conhecido, o que vai dar a toda a cidade um ambiente engraçado durante o dia", refere Miguel Cunha. Paralelamente, decorre uma exposição sobre os cinco centenários, organizada pela Biblioteca e pelo Arquivo Regional Luís Silva Ribeiro.
O programa do festival, que decorre como sempre no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo, transformado em clube de jazz, procura a diversidade. No primeiro dia, apresenta-se o pianista francês Baptiste Trotignon com o percussionista Minino Garay. Amanhã é o dia de Charles Tolliver recriar, com o seu decateto, o famoso concerto de Thelonious Monk no Town Hall (Nova Iorque) em 1959. "É um dos concertos mais importantes de sempre na história do jazz porque o Monk não parava muito tempo para escrever para grandes orquestras, preferia tocar com os seus quartetos e quintetos, até que uma certa altura um seu amigo arranjador decide fazer esse trabalho: pegar nos temas dele e arranjá-los para um decateto. É um decateto exatamente com os mesmos instrumentos e com o mesmo alinhamento desse concerto que vai ser tocado aqui em Angra do Heroísmo. É um repertório muito bonito. O Charles Tolliver é um belíssimo trompetista que vai dar um concerto muito interessante", assegura o organizador.
Na sexta-feira, regressam os concertos duplos com os portugueses Ensemble Super Moderne, seguidos do quarteto do baterista norte--americano Matt Wilson com um "jazz muito moderno, muito interessante". A fechar o Angrajazz, o jazz vocal com a cantora e violinista cubana-suíça Yilian Cañizares, cabendo a Jon Irabagon e ao seu quarteto de excelência fechar o festival: "Quatro grandes nomes nos seus instrumentos, é quase um all star quarteto", refere Miguel Cunha.
Tocar "música bonita"
Além das jam sessions em cafés e bares do centro de Angra, a organização promove duas sessões de divulgação junto de escolas, com o objetivo assumido de captar sangue novo quer para o festival quer para a Orquestra Angrajazz. Esta, formada por músicos amadores da Terceira, faz amanhã a abertura do festival, como é tradição desde 2002.
Pedro Moreira é um dos dois diretores artísticos da orquestra da "casa" (o outro é Claus Nymark), que neste ano junta cinco pesos-pesados do jazz num programa despretensioso, com 1917 no retrovisor: o ano em que foi feita a primeira gravação conhecida de uma peça de jazz por um grupo chamado Original Dixieland Jass Band. "Decidimos fazer uma pequena homenagem. Não tem qualquer pretensão, nem histórica nem cronológica, é simplesmente aproveitar uma efeméride que são várias por coincidência. É um pretexto para tocar uma coleção de temas, um ou outro mais conhecido, como é o caso de Round Midnight, do Thelonious Monk, ou do Night in Tunisia, do Dizzy Gillespie. É um pretexto para tocarmos música bonita, celebrar nomes que nos dizem muito, que nos inspiram, e misturar aquilo tudo num concerto só." Além de Monk, pianista e compositor, e de Gillespie, trompetista, "um dos inovadores, um dos músicos fundamentais na época do beebop nos anos 1940", a big band terceirense vai ainda assinalar o nascimento de Ella Fitzgerald, "que é aquela voz completamente incontornável na história do jazz", de Lena Horne, "uma voz mais desconhecida talvez mais associada a algum tipo de jazz orquestral mas muito próxima do mundo de Hollywood e do cinema", e Tadd Dameron, "um pianista e compositor com um reportório muito influente junto dos músicos de jazz, também com uma carreira interessante ao longo dos anos 1950 e 1960".
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