Angola. Um futuro sem "irritantes" e com mais cooperação

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António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa rumaram a África enquanto por cá se ouviram, com estrondo, as palavras do ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, na Comissão Parlamentar de Economia à TAP. Marcelo está na África do Sul, onde assinalará o 10 de Junho com as Comunidades Portuguesas, e Costa juntar-se agora ao Presidente após ter terminado ontem uma visita oficial a Angola.

O primeiro-ministro ficou dois dias em terras da rainha Ginga para assinar 13 protocolos de cooperação e receber elogios do presidente angolano, João Lourenço, que enalteceu a ajuda portuguesa nos processos judiciais, onde o caso mais mediático é o de Isabel dos Santos. João Lourenço diz que tem "sentido, da parte da Justiça portuguesa grande vontade de colaborar, tem havido intercâmbio de informações e alinhamento com a estratégia de Angola no combate à corrupção e em tudo aquilo que tem sido solicitado às autoridades judiciais portuguesas temos encontrado a devida correspondência."

Noutras áreas de cooperação e na economia, há novos sinais a reter para o futuro: merecem destaque os acordos que foram assinados pelos ministros das Finanças, Fernando Medina, e dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, que levam a um aumento da linha de crédito empresarial de 1,5 mil milhões de euros para dois mil milhões de euros e o Programa Estratégico de Cooperação (PEC), que vai de 2023 até 2027.

A Educação é outra área relevante e que, ao longo da história, tem construído pontes entre os dois países irmãos. Neste setor, Costa anunciou que, a partir do próximo ano letivo, Portugal irá duplicar o número de bolsas para estudantes de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, subindo em 30% o valor dessas bolsas, o que é significativo para os africanos que ambicionam estudar e viver em Portugal.

Numa nação com baixa natalidade, envelhecimento atroz e falta de talento suficiente para responder à procura das empresas nacionais e globais, valorizar a formação e o ensino, com parceiros como Angola, é uma medida importante e com impacto no futuro de Portugal. Além disso, contribui para a valorização e o conhecimento de tantos que de outra forma, sem cooperação e sem bolsas, dificilmente teriam acesso a Ensino Superior com chancela europeia.

Na histórica construção de pontes entre os dois países, o ensino e o português sempre foram pilares cruciais. A língua de Camões, a educação e a cultura unem os povos, criando identidades que se cruzam e que, sem prescindir dos seus genes, conseguem interagir e comunicar melhor. Estas áreas são determinantes no desempenho das relações político-diplomáticas e económicas.

Portugal exportou 1425 milhões de euros para Angola em 2022 e importou 624 milhões. O investimento direto estrangeiro angolano cá (5093,7 milhões de euros no final do primeiro trimestre deste ano) é superior ao português lá (2682 milhões de euros), que tem vindo a cair (menos 12,9% em termos homólogos).

Hoje há muito espaço para crescer nesta relação. João Traça, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal -Angola (CCIPA), admite que o apetite das empresas lusas por Angola tem aumentado, mas também que a concorrência vai subir ferozmente, porque as outras nações não estão distraídas e querem uma fatia da palanca negra. Basta de "irritantes" ou, citando António Costa, "a ausência de irritantes permite-nos estar focados no potencial que podemos atingir". Que esta não seja mais uma promessa bilateral meramente política e que se faça caminho. Afinal, desde 1482 que "estamos juntos".


Diretora do Diário de Notícias

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