Angola e a nova esperança

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Com muito espanto e preocupação verifiquei que pouca referência foi dada à visita do primeiro-ministro de Portugal a Angola.

A imprensa portuguesa delicia-se em encher páginas e telejornais com os mexericos constantes da política - tentando apenas atrair a atenção dos leitores e dos telespectadores - saltitando de tema em tema, sem que sirva sequer de fator de pressão para que se encontre soluções para aqueles casos, e esquece, ou nem sequer liga, a qualquer outro tema que possa ter muito maior impacto para o futuro do desenvolvimento económico, cultural e social do país.

Esta semana deu-se em Angola um momento de aproximação extraordinário entre os nossos dois países, não só através do encontro entre as duas figuras que comandam os governos de Portugal e de Angola, mas também - e sobretudo - pela extraordinária repercussão que essa visita teve nos meios de comunicação social de Angola.

A assunção de que atingimos uma maturidade nas nossas relações como países iguais permitiu trazer ao debate público a ideia de que partilhamos uma história conjunta, partilhamos uma base cultural forte e que temos laços de familiaridade que devem tornar-se cada vez mais elemento de união e não de divisão.

Tenho de reconhecer que ambicionava, desde há muito, poder viver este momento em que, sem ressentimento, pudéssemos avançar de mãos dadas na criação de uma realidade económica, social e cultural, fundando uma plataforma baseada na CPLP, em que podemos entrar em conjunto na economia global com uma dimensão que nos permite competir a nível dos maiores mercados - e com a força de uma comunidade que se sente verdadeiramente unida por laços identitários fortes.

Há que reconhecer o esforço grande feito pelo embaixador de Portugal em Angola, Francisco Alegre, que tem uma visão estratégica sobre este relacionamento entre os países lusófonos que muita falta faz à consolidação deste projeto.

Angola e Portugal são dois elementos fundamentais desta organização de Estados que tanto nos pode favorecer enquanto comunidade de países de língua oficial portuguesa.

Não são nem mais nem menos que todos os restantes membros, mas são dois Estados que têm desenvolvido o pilar económico de uma forma mais forte e que, por isso, poderão ser os pioneiros desta nova investida no sentido de reforçar a presença desta comunidade no Mundo.

Portugal tem uma característica extraordinária de compreensão sobre as circunstâncias que afetam as relações entre Estados, ou mesmo organizações, e pode, através da sua intervenção, patrocinar soluções de alinhamento de interesses que permitem desenvolver novos projetos. Nestas condições deverá assumir este papel no apoio à consolidação da CPLP como plataforma de desenvolvimento dos seus membros, para os seus membros e com os seus membros.

Eu vim a Angola com o primeiro-ministro com a esperança de assistir a um novo passo nas relações entre Portugal e Angola.

Saio desta visita com a esperança de termos dado um enorme salto na consolidação dessa relação. De termos atingido finalmente a maturidade e a convicção de que somos iguais, de que nada mais há a recriminar e que poderemos finalmente aproveitar das grandes qualidades que têm os dois países, a sua gente e a sua cultura.

Mas saio também com a esperança de que tudo isto possa ser o princípio de uma nova comunidade de países, com uma estratégia conjunta em tudo aquilo que são as relações económicas internacionais. Esta é a verdadeira CPLP.


bruno.bobone.dn@gmail.com

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