Andy Serkis: de ator como Gollum a realizador em Vive
O primeiro filme de Andy Serkis como realizador a estrear nos cinemas não é a sua estreia atrás das câmaras. Famoso pelos seus papéis em sagas como Planeta dos Macacos ou em O Senhor dos Anéis (como Gollum),já tinha rodado o ano passado O Livro da Selva para a Warner, mas o filme apenas será visto em 2018 depois de a Disney ter ganho a corrida com o seu O Livro da Selva, adaptação do clássico de animação. Em Londres, quando o encontramos num hotel de design, confessa-nos que a situação é insólita mas que está agora focado na estreia de Vive, a partir da vida real de Robin Cavendish, que se tornou num símbolo de sobrevivência para todos os doentes afetados pela poliomielite.
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"Tinha muitas razões para fazer este filme, uma das quais por ser muito amigo do Jonathan Cavendish, filho do Robin, e aqui produtor. Esta é uma história muito pessoal. Além do mais, tenho uma irmã que se encontra numa cadeira de rodas com esclerose múltipla, já para não falar que a minha mãe também ensinava crianças com deficiência. Sinto-me muito ligado à maneira como lidamos com a deficiência física, sobretudo dos anos 1960 até 2017. Fizemos todos um grande progresso, mas ainda temos de evoluir muito, sobretudo no que toca a tentarmos ter um tratamento de igualdade na atitude e nos locais de trabalho. Este filme marca todo o estigma que havia nos primeiros tempos, onde estas pessoas eram escondidas", começa por nos dizer Serkis.
Entre o melodrama clássico e a linhagem do "biopic" escola BBC, Breathe (título original) para o seu realizador não é um filme político: "não faz é mal nenhum as pessoas ficarem comovidas com o filme, embora não seja um objeto sentimental. Trata-se sim de um filme muito emocional - as pessoas sentem que aqui podem ter uma catarse porque não estão a ser manipuladas. Vive é autêntico e honesto, mesmo não deixando de afetar o espetador". E será que o realizador assume a variante humorística? Se assume! "Para o Cavendish e para a mulher o humor era a primeira linha de defesa para combater o horror. O tom de humor estava no argumento e na minha vontade de moldar o filme. Queríamos que o filme tivesse essa vibração e cor! Tudo aponta em direção ao espírito e energia do Robin e da Diane no que toca à relação com a deficiência".
Nesta altura, Vive tem tido um impacto crítico algo fraco, mas conseguiu ser selecionado para as sessões de gala do Festival de Toronto e abrir o Festival de Londres, tudo fatores de prestígio para um filme que agora joga cartada forte na temporada dos prémios para a categoria de melhor ator, Andrew Garfield. Serkis confessa que chegou a pensar num ator deficiente para o papel mas depois sentiu-se que era importante mostrar parte da sua vida antes do diagnóstico: "para outros papéis pensou-se nessa hipótese, mas depois por uma série de razões, sobretudo logísticas, não foi possível. Seja como for, contactámos grupos de teatro de deficientes e agências de atores deficientes".
No final, antes de enfrentar a BBC, o ator que fez de Gollum, aceita o desafio e descreve-se como realizador: "sou um bom colaborador. Prefiro sempre a colaboração dos outros sem nunca perder o controlo. Quero que a minha equipa faça parte de todo o processo! Do elenco aos técnicos, todos ficaram tocados por esta história e pelo poder deste argumento".