Este é o primeiro congresso do PAN já com representação parlamentar. O que é que mudou no partido com a eleição de um deputado?.Essencialmente a exposição, a capacidade de mediatizar os nossos valores e as nossas medidas. E houve um crescimento do partido, com novas adesões..Quantos filiados tem o PAN?.Acima de um milhar, 1200, 1300. Depois de 4 de Outubro de 2015 notou-se uma maior adesão, não só de filiados, mas de companheiros de causa, pessoas que não querendo ser filiados querem estar em contacto com o partido. Mas acima de tudo notamos uma adesão maior nas ruas, nas redes sociais..Consegue fazer uma caracterização dos filiados do PAN?.Nunca fizemos um estudo, mas não só a militância como a simpatia que vamos aferindo pelo PAN é essencialmente de pessoas que vão desde adolescentes até aos 40, 50 anos. É um eleitorado jovem. E mais feminino: temos mais filiados mulheres... Os partidos têm sempre problemas porque têm um maior número de candidatos do género masculino, no caso do PAN é ao contrário. Nas últimas legislativas o tribunal do círculo de Santarém notificou-nos, não estávamos a cumprir a lei da paridade porque tínhamos mulheres a mais. Mas o perfil é acima de tudo o de uma pessoa informada, que pesquisa muito para além dos meios de comunicação convencionais. E temos a simpatia e o acompanhamento de pessoas de vários movimentos que muitas vezes são secundarizados ou ditos alternativos. Porque defendemos a agricultura biológica, a permacultura, a agricultura regenerativa....São temas - e termos - incomuns no debate público. Sente essa dificuldade, não tem por vezes a sensação de que muitas pessoas não fazem ideia do que está a falar?.Essa é uma discussão que temos, mas o que fazemos sempre, acho que com sucesso, é comunicar sem complicómetro. O que verificamos no discurso dos outros atores políticos é, muitas vezes, um discurso complexo, redondo, que enche o espaço, mas não diz nada. No PAN temos a preocupação de fazer uma comunicação muito clara. Obviamente, sabendo que falamos de novos assuntos, novos termos, que não são habituais..O PAN não corre o risco de ficar associado a temas que, não estando na primeira linha, podem ser considerados secundários? .Para os atores que estão dentro da política convencional sim, porque querem continuar a falar das mesmas coisas. Para a maioria das pessoas, para as que se reveem no PAN, para o maior partido português - que é a abstenção - , para as pessoas que estão de costas voltadas para a política convencional, o feedback que temos tido é que as pessoas querem que se fale de temas que não são falados. A grande novidade do PAN é trazer para o parlamento, sem tabus, assuntos que não têm sido debatidos, por preconceito ou porque há temas que estão sujeitos a fortes lobbys..Por exemplo? .Quando se fala em dar mais direitos, mais proteção aos animais, em estender a criminalização dos maus tratos a animais que não os de companhia, os de pecuária... Estamos a falar de preconceito e estamos a falar de um lobby fortíssimo que tem uma grande influência na Assembleia da República. Estamos a falar de uma atividade, a pecuária intensiva, que trata os animais com elevada indignidade, que tem impactos ambientais enormes e que não só não paga taxas ambientais como ainda tem fortes isenções e recebe elevados apoios públicos. O que nós defendemos é que a indústria pecuária intensiva não deve receber apoios como tem recebido e que, ao contrário, deve haver um apoio diferenciado à agricultura biológica..Porque é que diz que tem uma grande influência no parlamento?.Por aquilo que se vai vendo nos debates, pela presença dos interesses na Assembleia... Há matérias que são quase consensuais, que expressam a vontade da maioria dos portugueses e que não encontram eco na Assembleia..Acha que a Assembleia é muito permeável a lobbys, a interesses?.Aquilo que verificamos nos debates, nas votações, assim o indicia..O PAN é muitas vezes apontado como um partido radical....Sim, e isso dá jeito. Os principais partidos, os partidos do arco da governação... Quando alguém traz uma ideia nova - não só o PAN - é apelidado de radical. Dá jeito a quem quer manter o status quo chamar radical a quem chega com novas ideias, com ideias progressistas. E nós dizemos: sim, somos radicais. Radicais de raiz. Não é sustentável - é a ciência que o diz, é a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação que o diz, a Organização Mundial de Saúde - continuarmos a produzir alimentos da forma que produzimos. Todo o mundo científico, todas as organizações internacionais dizem que temos de caminhar para uma forma de produção de alimentos mais sustentável, não intensiva, não agro tóxica. É esta a radicalidade do PAN. E aquilo que encontramos na Assembleia da República é um conservadorismo extremo que rejeita tudo isto..O PAN tem sido acusado de se preocupar mais com os animais do que com as pessoas....[risos]. Lá está, outra vez o mesmo argumento. Só pode dizer isso quem não está atento ao programa e à atuação do PAN. O PAN tem feito a defesa das causas sociais, do ambiente e dos animais. A diferença para os outros é que o PAN também defende os animais. Defendemos as causas sociais, maior dignidade para as pessoas, aqueles que menos têm e aqueles que mais precisam. E dentro desses, no fim da linha da proteção jurídica, aqueles que não têm proteção nenhuma, que são os animais..Em 2016 absteve-se no Orçamento do Estado, este ano votou a favor. Há uma aproximação do PAN ao governo?.Há uma aproximação do governo ao PAN. Para este orçamento o PAN não foi consultado pelo governo, mas fez-se consultar, fomos bater à porta do governo, com medidas, com propostas. O governo não rejeitou, sentou-se à mesa, ouviu-nos genuinamente, trabalhou para encontrar soluções. O PAN viu que houve esse esforço, obviamente não podia fazer outra coisa senão votar a favor.