André Silva: "Há temas sujeitos a fortes lobbys no parlamento"

O PAN reúne-se hoje no quinto congresso, o primeiro depois da eleição de um parlamentar. André Silva, deputado e porta-voz, é o primeiro subscritor da única moção global a debate. "Ousar, prosseguir e consolidar. Um projeto para todos" é o mote, num partido que diz ter encontrado na Assembleia um "conservadorismo extremo".
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Este é o primeiro congresso do PAN já com representação parlamentar. O que é que mudou no partido com a eleição de um deputado?

Essencialmente a exposição, a capacidade de mediatizar os nossos valores e as nossas medidas. E houve um crescimento do partido, com novas adesões.

Quantos filiados tem o PAN?

Acima de um milhar, 1200, 1300. Depois de 4 de Outubro de 2015 notou-se uma maior adesão, não só de filiados, mas de companheiros de causa, pessoas que não querendo ser filiados querem estar em contacto com o partido. Mas acima de tudo notamos uma adesão maior nas ruas, nas redes sociais.

Consegue fazer uma caracterização dos filiados do PAN?

Nunca fizemos um estudo, mas não só a militância como a simpatia que vamos aferindo pelo PAN é essencialmente de pessoas que vão desde adolescentes até aos 40, 50 anos. É um eleitorado jovem. E mais feminino: temos mais filiados mulheres... Os partidos têm sempre problemas porque têm um maior número de candidatos do género masculino, no caso do PAN é ao contrário. Nas últimas legislativas o tribunal do círculo de Santarém notificou-nos, não estávamos a cumprir a lei da paridade porque tínhamos mulheres a mais. Mas o perfil é acima de tudo o de uma pessoa informada, que pesquisa muito para além dos meios de comunicação convencionais. E temos a simpatia e o acompanhamento de pessoas de vários movimentos que muitas vezes são secundarizados ou ditos alternativos. Porque defendemos a agricultura biológica, a permacultura, a agricultura regenerativa...

São temas - e termos - incomuns no debate público. Sente essa dificuldade, não tem por vezes a sensação de que muitas pessoas não fazem ideia do que está a falar?

Essa é uma discussão que temos, mas o que fazemos sempre, acho que com sucesso, é comunicar sem complicómetro. O que verificamos no discurso dos outros atores políticos é, muitas vezes, um discurso complexo, redondo, que enche o espaço, mas não diz nada. No PAN temos a preocupação de fazer uma comunicação muito clara. Obviamente, sabendo que falamos de novos assuntos, novos termos, que não são habituais.

O PAN não corre o risco de ficar associado a temas que, não estando na primeira linha, podem ser considerados secundários?

Para os atores que estão dentro da política convencional sim, porque querem continuar a falar das mesmas coisas. Para a maioria das pessoas, para as que se reveem no PAN, para o maior partido português - que é a abstenção - , para as pessoas que estão de costas voltadas para a política convencional, o feedback que temos tido é que as pessoas querem que se fale de temas que não são falados. A grande novidade do PAN é trazer para o parlamento, sem tabus, assuntos que não têm sido debatidos, por preconceito ou porque há temas que estão sujeitos a fortes lobbys.

Por exemplo?

Quando se fala em dar mais direitos, mais proteção aos animais, em estender a criminalização dos maus tratos a animais que não os de companhia, os de pecuária... Estamos a falar de preconceito e estamos a falar de um lobby fortíssimo que tem uma grande influência na Assembleia da República. Estamos a falar de uma atividade, a pecuária intensiva, que trata os animais com elevada indignidade, que tem impactos ambientais enormes e que não só não paga taxas ambientais como ainda tem fortes isenções e recebe elevados apoios públicos. O que nós defendemos é que a indústria pecuária intensiva não deve receber apoios como tem recebido e que, ao contrário, deve haver um apoio diferenciado à agricultura biológica.

Porque é que diz que tem uma grande influência no parlamento?

Por aquilo que se vai vendo nos debates, pela presença dos interesses na Assembleia... Há matérias que são quase consensuais, que expressam a vontade da maioria dos portugueses e que não encontram eco na Assembleia.

Acha que a Assembleia é muito permeável a lobbys, a interesses?

Aquilo que verificamos nos debates, nas votações, assim o indicia.

O PAN é muitas vezes apontado como um partido radical...

Sim, e isso dá jeito. Os principais partidos, os partidos do arco da governação... Quando alguém traz uma ideia nova - não só o PAN - é apelidado de radical. Dá jeito a quem quer manter o status quo chamar radical a quem chega com novas ideias, com ideias progressistas. E nós dizemos: sim, somos radicais. Radicais de raiz. Não é sustentável - é a ciência que o diz, é a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação que o diz, a Organização Mundial de Saúde - continuarmos a produzir alimentos da forma que produzimos. Todo o mundo científico, todas as organizações internacionais dizem que temos de caminhar para uma forma de produção de alimentos mais sustentável, não intensiva, não agro tóxica. É esta a radicalidade do PAN. E aquilo que encontramos na Assembleia da República é um conservadorismo extremo que rejeita tudo isto.

O PAN tem sido acusado de se preocupar mais com os animais do que com as pessoas...

[risos]. Lá está, outra vez o mesmo argumento. Só pode dizer isso quem não está atento ao programa e à atuação do PAN. O PAN tem feito a defesa das causas sociais, do ambiente e dos animais. A diferença para os outros é que o PAN também defende os animais. Defendemos as causas sociais, maior dignidade para as pessoas, aqueles que menos têm e aqueles que mais precisam. E dentro desses, no fim da linha da proteção jurídica, aqueles que não têm proteção nenhuma, que são os animais.

Em 2016 absteve-se no Orçamento do Estado, este ano votou a favor. Há uma aproximação do PAN ao governo?

Há uma aproximação do governo ao PAN. Para este orçamento o PAN não foi consultado pelo governo, mas fez-se consultar, fomos bater à porta do governo, com medidas, com propostas. O governo não rejeitou, sentou-se à mesa, ouviu-nos genuinamente, trabalhou para encontrar soluções. O PAN viu que houve esse esforço, obviamente não podia fazer outra coisa senão votar a favor.

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