Andorra. O país dos Pirinéus
No périplo por estâncias termais, a curiosidade era grande para ver o novo projeto de termas e neve, desenhado pelo meu colega Jean-Michel Ruols, arquiteto com escritório em Paris, com quem combinei um encontro em Caldea. Andorra é um microestado soberano, sem litoral, ainda pertencente à Península Ibérica. Fala-se espanhol, francês e, não oficialmente, o português, pela crescente chegada de portugueses emigrantes. A arquitetura do maior centro termolúdico da Europa ergue-se parecendo uma pedra preciosa lapidada e cristalina. Jean-Michel inspirou-se nas montanhas locais e escolheu o revestimento em vidro para refletir o aspeto cristalino da água. O que mais fica destes dias foi a conversa pausada, num arranhado francês, com Jean-Michel, sobre a arquitetura e o papel dos arquitetos no mundo, entre os traços e as viagens. Não há arquitetura sem viagem e viagem sem arquitetura. Repetiu-me o que eu já vira numa entrevista dele: "A arquitetura está ao serviço da imagem do lazer termal". Falou-se da importância de uma equipa tão coesa como na época das catedrais, para se entregar a obra no prazo, respeitando o orçamento. O projeto de Caldea foi construído como protótipo, a palavra "termolúdico" nasceu aqui e foi disseminada. Caldea foi uma revolução para Jean-Michel, assim como o Parque Asterix, em Paris, que também conheço na visita que fizera, anteriormente, com um grupo de açorianos, quando vivi nos Açores. Ambos olhávamos a peça de arquitetura, perguntando-nos se nela se descobria perpetuidade, tema que questionámos na nossa conversa. Na despedida, Jean-Michel desafiou-me para o contactar logo que eu voltasse a Paris. Estava nos seus planos integrar-se na extraordinária empreitada de uma quase eterna expansão da cidade do Dubai, em terras de petróleo e dinheiro, como a América dos séculos XIX e XX transposta para oriente no século XXI. Quanto à viagem a Paris, ainda não a fiz, de novo, apenas aconteceu um encontro na Galiza, para falarmos de arquitetura termal num colóquio internacional. Caldea é um dos exemplos da arquitetura termal contemporânea. Nos últimos tempos, a reabilitação de edifícios e a construção de raiz procuraram ir ao encontro de conceitos atualizados e de novas respostas aos avanços da crenoterapia e dos programas de bem-estar, à procura turística e à maior abrangência de serviços e utentes, às correntes arquiteturais e aos novos materiais. A terapia tem uma ritualização própria, o que confere ao espaço um dado programático específico. A água e a arquitetura estimulam os sentidos.
Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.