Estão quase a chegar três dias de festa em honra de Nossa Senhora da Pópula, mas, em Montes da Senhora, Proença-a-Nova, a alegria maior foi ver uma filha da terra ser salva das mãos dos assaltantes. Deram-se abraços, chorou-se de alegria e de nervos, brindou-se à bravura de quem esteve tanto tempo na mira de dois sequestradores. Ana Maria, a gerente do BES de Campolide, é a mulher-coragem que toda a aldeia respeita..Se antes já todos tinham especial consideração por Ana Maria - assim a tratam carinhosamente - depois do sequestro de mais de oito horas, toda a aldeia passou a idolatrar e a sublinhar aos forasteiros que ela é especial..Ana Maria Antunes, apesar de não ter nascido naquela aldeia da Beira Baixa, é uma mulher dinâmica e que volta às raízes familiares sempre que os afazeres profissionais lhe permitem. E não se fica, simplesmente, por visitar a aldeia. "Ela é muito querida, quando cá vem participa sempre nas actividades, está sempre pronta a ajudar na organização dos jogos, no teatro…", revela Américo Gonçalves, proprietário do Café Central - onde ontem à tarde o pai de Ana Maria esteve a jogar às cartas pela primeira vez desde a inesquecível noite de quinta-feira..Aquele café foi mesmo central na vida daqueles pais, vizinhos e amigos de Ana Maria. Ali todos se juntaram, já depois das 23.00 para acompanhar em directo por um canal de televisão por cabo o desfecho do sequestro . Naquela tarde, neste café muito concorrido para os jogos de mesa, ninguém ousou falar em voz alta..Foram horas de incerteza para o pai de Ana Maria. A pedido da sua mulher, Piedade, ainda foi para casa ao fim do dia. Mas o progenitor haveria de regressar, já depois das 23.00, para ver em directo num canal de notícias. "Quando tudo acabou, foi tamanha a alegria, tão indescritível, bateram-se palmas, na esplanada houve abraços…", recorda ao DN o proprietário do café..A aldeia está a engalanar-se, com iluminação especial no largo da igreja, para receber artistas de renome nacional. Contudo, as conversas vão todas acabar noutro assunto: Ana Maria. "Aqui a palavra ainda é lei, é uma terra de gente séria, trabalhadora, hospitaleira e com bravura para com as adversidade", diz Manuel Antunes. Sentado ao seu lado, no mesmo café, João Garcia atira: "A consternação foi total, aqui quase todas as famílias se tocam, todos estávamos a sofrer naquele momento". Ontem, o pai da gerente bancária saiu de casa, incentivado por familiares e amigos. Pede-nos anonimato e diz: "Apenas digo que estamos bem de saúde e queremos reserva, respeitando a nossa filha e o colega".