Ana Maria, "a fadista negra", morreu antes de actuar
Ana Maria, que se apresentava como a "fadista negra", era natural de Luanda e integrava o elenco daquela casa de fados em Alfama, onde foi encontrada morta, momentos antes de actuar, disse à Lusa a mesma fonte.
O corpo da fadista encontra-se no Instituto de Medicina Legal, em Lisboa, para autópsia, disse a mesma fonte.
Em 1975, o nome de Ana Maria surgiu na ribalta, após uma actuação na Grande Noite do Fado de Lisboa. O interessa pelo fado herdara da mãe, que apreciava a voz e o talento de Amália Rodrigues.
Com 10 anos, em Luanda, venceu o concurso do programa radiofónico "Chá das seis", apresentado por Alice Cruz. Obteve uma autorização especial para cantar, pois era menor, e teve "lições de canto, especialmente de colocação da voz, pelo maestro Casal Ribeiro", que muito a ajudaram para "manter a voz", disse em 2003 à agência Lusa, quando editou o primeiro e único álbum.
Em 1975 a fadista mudara-se para Portugal e vivia em Santarém, decidindo-se então pela carreira artística. Em declarações à Lusa afirmou que "foram [então] muito importantes os conselhos, lições e o carinho da [fadista] Natália dos Anjos".
Ana Maria Dias integrou os elencos das casas típicas Pátio da Mariquinhas, Forte Dom Rodrigo, Mal Cozinhado, Taverna do Embuçado e Taverna d'el Rei.
"Trago fado nos sentidos" é o seu álbum de estreia, editado em 2003 pela Ovação, onde cruza fados como "Fria claridade" (Pedro Homem de Mello/José Marques do Amaral) do repertório de Amália Rodrigues, e mornas como "Beijo da Saudade" (B.Leza).
"São duas canções que falam de saudade, de mar e de amor", disse na ocasião à Lusa.
Foi nesse ano que actuou pela primeira vez na sua terra natal, a convite do então Primeiro-Ministro José Manuel Durão Barroso, que visitava aquele país e a integrou na comitiva oficial.
Em 2004 participou nas Festas de Lisboa e apresentou no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém o espectáculo "Fado, um outro olhar". Em palco foi acompanhada por Guilherme Banza (guitarra portuguesa), Diogo Clemente (viola de fado) e Nando Araújo (baixo acústico).
Em 2005 actuou na Holanda e em 2007 voltou a participar nas Festas de Lisboa, partilhando o palco do castelo de S. Jorge com a cabo-verdiana Maria Alice.
Sobre a carreira, Ana Maria contou à Lusa "mil peripécias" na maioria ligadas à sua origem negra. "Alguns não acreditam e brincam e já houve quem saísse dizendo que vinha para ouvir fado e não mornas, mas começando a cantar voltam, ficam e aplaudem", contou.
A fadista referiu que "há traços comuns entre algumas musicalidades tradicionais africanas e o fado: um certo compasso, a importância da voz e também a temática - ausência, solidão, amor".