"A expectativa de uma solução entre Israel e Palestina fica inquinada"

A investigadora no Centro de Estudos Internacionais do ISCTE vê a inauguração da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém como um reforço de legitimidade do primeiro-ministro israelita e a solução de dois Estados como uma miragem
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Como é que a Embaixada dos EUA em Jerusalém pode contribuir para a paz na região?

Em teoria, nenhum analista político pode dizer que a transferência é benéfica para o processo de paz. O que vem demonstrar é que não é só um capricho de Donald Trump, porque não traz qualquer expectativa de roteiro para a paz no Médio Oriente. Mas tem um peso político-diplomático muito forte. Com esta transferência cria antes de mais uma escalada de violência que só tende a agravar-se. Ocorre no dia em que Israel comemora 70 anos de Estado e na véspera do que os árabes chamam dia da catástrofe, símbolo da luta contra o povo palestiniano. Traz uma carga simbólica fortíssima do ponto de vista emocional. E a expectativa de uma solução fica inquinada. Cada vez mais faz sentido encontrar-se soluções criativas, nas quais se reconheça Jerusalém como capital de ambos. A solução de dois Estados parece cada vez menos consentânea com a realidade.

Netanyahu reafirmou no discurso da inauguração da embaixada que Jerusalém é capital indivisa de Israel.

Da parte de Israel sempre houve essa inflexibilidade, é uma questão que estava na última alínea das negociações. Netanyahu reforça a legitimidade interna para poder dizer que o consenso internacional da solução de dois Estados está a esvair-se, com os Estados Unidos a terem essa coragem, como Netanyahu disse. Mas faz outra coisa, começa a quebrar o consenso europeu nesta matéria. Há uma posição oficial da UE, mas há pelo menos quatro Estados europeus que não só estiveram presentes hoje com os seus embaixadores como equacionam seguir os EUA.

Por que razão os protestos são mais virulentos em Gaza do que na Cisjordânia?

Toda a região é um barril de pólvora e cada vez mais incitada com acontecimentos como o de ontem que, por mais simbólica que pareça, na verdade tem um peso político e diplomático muitíssimo grande. É muito complexo descortinar a natureza da violência na região porque acaba por ser fruto da incompreensão da necessidade de existirem dois povos e dois Estados. A violência acaba por ser fruto do ódio e da violência dos movimentos políticos e os governos da vizinhança acabam por incitar também.

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