Ana Gomes diz que comércio livre pode resolver crise
O anúncio de que os Estados Unidos vão iniciar conversações para criar a maior zona de comércio livre a nível mundial, feito na terça-feira à noite pelo Presidente norte-americano, Barack Obama, foi considerado pela eurodeputada como "muito significativo", já que aquele país tem mostrado "muita relutância" em avançar com o projeto.
A criação de uma zona de comércio livre entre a União Europeia e os EUA "vai exigir um grande trabalho de harmonização de legislação, de especificações técnicas, que são reais entraves ao comércio (...), mas concluiu-se que há de facto um potencial global extraordinário, desde logo para nos fazer sair da crise e para também para influenciar a regulação económica da globalização", afirmou à Lusa Ana Gomes.
Segundo referiu, a União Europeia (UE) -- e sobretudo a Alemanha - tem feito, nos últimos cinco anos, "muita pressão pela abertura de negociações com vista a um acordo de livre comércio entre a Europa e os Estados Unidos".
No entanto, as autoridades norte-americanas, "têm-se escudado em diversos tipos de argumentação, designadamente nas dificuldades de calendário por exemplo por causa das eleições, para não se encetarem as negociações", disse a eurodeputada, sublinhando que, por isso, "é muito significativo que o Presidente Obama tenha ontem vindo falar nisso".
A nova posição norte-americana resulta, segundo Ana Gomes, de um 'forcing' feito no ano passado pelo Parlamento Europeu, que "percebeu que havia agora, até do ponto de vista do calendário norte-americano, uma janela de oportunidade se houvesse interesse político da administração".
"Do lado americano havia muitas relutâncias porque um acordo deste tipo envolve um grande esforço de harmonização de legislação, designadamente no plano técnico, e porque, obviamente, nos EUA, em muitos setores, prevalece uma posição protecionista", explicou.
A criação da zona livre de comércio entre as duas regiões deverá estar pronta "durante esta administração" americana, ou seja, "nos próximos dois ou três anos", adiantou a eurodeputada.
Ana Gomes, que é uma das deputadas do Parlamento Europeu responsável pelas relações com os Estados Unidos, explicou que o projeto "não só consagra um espaço de comércio livre que já existe e que é significativo", mas também "será o mais influente do mundo pelas oportunidades económicas que oferece para a Europa e para os Estados Unidos".
A ser criada, a nova zona de comércio livre terá "uma influência decisiva na regulação comercial e económica a nível mundial", acrescentou.
Por outro lado, a necessidade de projetar esta nova zona comercial também foi consequência do falhanço das últimas negociações multilaterais da Organização Mundial do Comércio, designadas como 'Uruguai Round'.
"Todo o processo do 'Uruguai Round' falhou, está bloqueado e portanto todas as hipóteses de um acordo multilateral falharam. Resta procurar a via dos acordos bilaterais entre grandes zonas como é a União Europeia e os Estados Unidos", disse.