Amor Louco
FLÁVIO GONÇALVES (Classificação 2/5)
Um olhar morto-vivo sobre o Romantismo
Berlim, 1811. O poeta Heinrich von Kleist teme mais a vida do que a morte e decide consumar o pacto de suicídio com Henriette Vogel. É a jornada desta mulher, desconsiderada na célebre história, a verdadeira matéria de Amor Louco, viagem realista ao Romantismo realizada pela austríaca Jessica Hausner.
Em cada um dos seus enquadramentos retratistas, a realizadora aprisiona o núcleo familiar do círculo aristocrático e expõe-nos as fatigantes convenções sociais que o animam. A maior fraqueza de Amor Louco está, portanto, em proteger-se no ornamento visual e num tipo de cepticismo estéril - passamos mais tempo a observar fantoches de um tempo projetado, personagens vivas-mortas. Enquanto temem as reformas da Revolução Francesa, são discretos os anseios de Henriette por uma liberdade que ela ainda não conhece e por um futuro que apenas a morte parece poder apressar.
JOÃO LOPES (Classificação 5/5)
O amor, a utopia e a morte
Não é o "amor louco" dos surrealistas, mas sim o do escritor Heinrich von Kleist (1777-1811), mobilizando Henriette Vogel para um pacto que apenas se pode saldar pela escolha da morte como desenlace da utópica entrega amorosa. A chancela de verosimilhança ("baseado em factos verídicos") não funciona, aqui, como caução banalmente naturalista, antes como ponto de partida para uma viagem estonteante através daquilo que as palavras formulam e a proximidade da morte, por definição já para além de qualquer discurso. A cineasta austríaca Jessica Hausner (de quem conhecíamos Lourdes, sobre uma devota do santuário francês) filma tudo isso com o paciente rigor de quem faz o inventário de um desafio selvagem, afinal indissociável da reconversão da "razão" e da "emoção" na transição dos séculos XVIII/XIX - uma inclassificável e fascinante experiência cinematográfica.
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Ficha de Filme
Realizador: Jessica Hausner
Com:Christian Friedel, Birte Schoeink
Ano: 2014