Amigo do sequestrador conheceu Natascha mas não desconfiou do crime
Um amigo de Wolfgang Priklopil, o austríaco que sequestrou Natascha Kampusch, deu ontem uma conferência de imprensa para contar que conheceu a jovem este Verão. Contudo, nunca suspeitou tratar-se da menina sequestrada há oito anos.
"Estavam os dois à minha espera. Ele apresentou-me a jovem, mas não referiu o seu nome. Apertámos a mão. Ela disse-me 'Bom Dia'. Pareceu-me simpática e feliz", afirmou, acrescentando ter ficado na dúvida se seria sua namorada ou apenas amiga.
Ernst Holzapfel conhecia o raptor há 20 anos, tiveram negócios juntos, e esteve várias vezes na sua casa nos arredores de Viena, ajudando em obras, mas nunca se apercebeu de nada estranho. Foi a ele a quem Wolfgang Priklopil telefonou antes de se suicidar. "Estava muito alterado. Pediu-me para o ir buscar. Disse que tinha sido apanhado a conduzir com álcool, mas que tinha fugido e estava com medo de ficar sem carta." Só descobriu o que sucedera quando a polícia o abordou pedindo-lhe que reconhecesse Priklopil a partir de uma fotografia. "Foi horrível", recorda.
"Sempre pensei que quando trabalhamos durante anos com uma pessoa a ficamos a conhecer bem... Mas durante todo o tempo, nunca suspeitei de nada", acrescentou.
O testemunho do amigo de Wolfgang Priklopil vem confirmar a tese de que Natascha saiu de casa várias vezes ao longo destes oito anos.
Ontem, a polícia retomou os interrogatórios a Natascha, depois de quatro dias de pausa para a preservar e não a sobrecarregar de perguntas. De acordo com um porta- -voz da polícia judiciária austríaca, o objectivo foi perceber como ocorreu o sequestro e o que se passou naquele dia. A jovem continua a afirmar que Priklopil actuou sozinho, mas há uma testemunha que garante ter visto duas pessoas quando ela foi raptada, no caminho para a escola, em 1998.
As buscas na casa continuam e ontem foram recolhidos da cave vídeos e livros que, segundo a polícia, são "inocentes" e não têm conteúdos sexuais. Mas as perguntas sobre como viveu a jovem durante os últimos oito anos continuam quase todas por responder.
As investigações confirmaram que a cave foi construída cinco anos antes de a menina ter sido sequestrada. O que levanta dúvidas sobre se antes dela terão havido outros sequestrados a habitar o espaço. A polícia revistou também o jardim em busca de qualquer tipo de provas enterradas. De acordo com a informação divulgada, terão também sido encontrados vestígios na cama de Priklopil que levantam a suspeita de que uma segunda pessoa terá ali dormido.
Natascha, que está protegida num local não divulgado, continua a recusar contactos com a família - com que apenas falou por telefone - e com os media.
O pai afirmou ontem uma rádio que o sequestrador terá contado à jovem que a família se tinha recusado a pagar o resgate. "Ele queria que lhe desses 940 mil euros e tu recusaste", disse Natascha ao pai, numa conversa telefónica.