A Venezuela viu aumentar as desigualdades sociais com o agravamento da situação económica do país que afetou em particular as camadas mais pobres da população, a braços com falta de alimentação e medicamentos..A uma hiperinflação, que o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima será este ano de 2.500.000%, juntou-se a permanente tensão entre Governo e Oposição, agravada após a contestada reeleição presidencial de Nicolás Maduro, em maio..Uma mistura explosiva que levou, segundo as Nações Unidas, cerca de 2,3 milhões de venezuelanos a abandonarem o país..Cerca de um milhão estão em acampamentos improvisados em Bogotá, na Colômbia, e centenas de milhar procuraram refúgio no Brasil, Peru, Equador e Chile. ."A epifania da ditadura na Venezuela e Nicarágua rebentou nas mãos das sociedades latino-americanas", defende o académico da Universidade del Rosário, de Bogotá, Enrique Serrano, em declarações à agência de notícias EFE..Serrano referia-se aos acontecimentos de abril na Nicarágua, quando manifestações contra as reformas económicas foram reprimidas violentamente pelas autoridades, escalando para o pedido de demissão do Presidente Daniel Ortega, no poder há 11 anos..No balanço, as organizações humanitárias contam entre 325 e 545 mortos, enquanto o Governo admite 190, assegurando que a sua ação foi em resposta a uma "tentativa de golpe de Estado"..Foram ainda registados 610 "presos políticos", segundo as organizações não-governamentais, e acusados 273 "suspeitos de terrorismo", de acordo com as autoridades..Para o antigo vice-Presidente da Costa Rica e investigador do Diálogo Interamericano, Kevin Casas Zamora, "o fio condutor destes casos é um problema de debilidade do Estado de direito" na região..Em causa estão, segundo este especialista entrevistado pela EFE, duas crises para as quais "não há saída óbvia". ."Uma das coisas que ficou clara no último ano, sobretudo na Venezuela, é a tremenda impotência da comunidade internacional para mudar o rumo autodestrutivo destes países", acrescentou..Na Nicarágua, a perseguição aos opositores levou muitos a deixarem o país em direção à Costa Rica, com o diretor regional da Organização Internacional para as Migrações (OIM) para a América do Norte, Central e Caribe, Marcelo Pisani, a classificar como "alta" a probabilidade de, num futuro próximo, este movimento degenerar numa crise migratória semelhante à que se vive atualmente na fronteira entre o México e os Estados Unidos..Desde 19 de outubro que milhares de pessoas, na sua maioria das Honduras, começaram a sair em caravanas rumo aos EUA. Apesar das tentativas para deter e demover os migrantes, inclusive com recurso a ameaças por parte da administração do Presidente Donald Trump, estima-se que 7 mil permaneçam no México, cerca de 90% em Tijuana, à espera de entrar nos EUA.."O fenómeno migratório não se resolve com medidas de força, mas abordando as razões que o originam", acrescentou Pisani..Pobreza, violência, criminalidade, corrupção e agravamento das desigualdades sociais são algumas das razões na origem desses fluxos migratórios, a que se juntam, em alguns países, as perseguições políticas e as violações sistemáticas dos direitos humanos por parte de governos autoritários..Enrique Serrano sustentou que este foi um "ano claramente difícil" para a América Latina, estimando que "a crise não desaparecerá a curto prazo", mas que "é possível minimizá-la".."O único remédio a curto e médio prazo é o fortalecimento da unidade regional", disse, considerado, no entanto, ser algo que se antevê difícil "depois do fracasso de alianças ideológicas" como a UNASUR [União das Nações Sul-Americanas] ou a ALBA [Alternativa Bolivariana para as Américas].