Amêndoas amargas por causa da Crise

A azáfama nas pastelarias em busca de amêndoas já conheceu tempos melhores. As grandes superfícies atraem cada vez mais os consumidores. Mas ainda há quem procure especialidades e em Torre de Moncorvo ainda se fabricam de forma totalmente artesanal. E com muita procura.
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O sabor amargo da crise também já se sente nas tradições da Páscoa. Na Baixa de Lisboa, a azáfama de outros tempos que antecedia a Semana Santa, na compra dos folares, ovos de chocolate ou amêndoas, resume-se agora a dois ou três dias de movimento mais animado nas lojas da especialidade. "Muita gente vem comprar a estas casas tradicionais porque, ao contrário das grandes superfícies, aqui ainda podem comprar avulso", explicou ao DN um funcionário de uma conhecida pastelaria do Rossio.

Helena Costa e a filha, Ana, 23 anos, resistem ao apelo dos hipermercados e mantêm-se fiéis às amêndoas e ao arroz tufado da Casa Manuel Tavares, na Rua da Betesga. "Trabalhei durante 15 anos na Baixa e, mesmo assim, continuo a vir cá fazer estas compras tradicionais. Aqui encontramos coisas que não conseguimos comprar nos supermercados, como o famoso arroz tufado ou os grãos de café cobertos de chocolate", explica Helena.

Clara Ladeira, à frente dos destinos desta casa centenária (fundada em 1860), conta que as 30 qualidades de amêndoa que comercializa são um forte chamariz para os clientes habituais e para os novos que estão a aparecer. "O produto mais procurado nesta altura é o sortido de luxo (que reúne as 30 qualidades vendidas nesta mercearia fina). Vendemos avulso e tem saído muito bem", diz a gerente, fazendo contas de cabeça. "Ainda ontem foram perto de 50 quilos de sortido." Os preços não são propriamente acessíveis. "Mas como se pode levar avulso, as pessoas avançam", sublinha.

Na Confeitaria Nacional, à Praça da Figueira, ainda se confecciona diariamente, durante a quadra da Páscoa, a "amêndoa de sobremesa". Luís Silva chama a atenção: "Todos os produtos que usamos para fazer os nossos doces tradicionais são portugueses. As amêndoas são nacionais." Ao ritmo de 20 quilos por dia, a amêndoa de sobremesa da Confeitaria Nacional "sai" bem, mas não consegue atingir os recordes imbatíveis do folar doce. "Vende-se quase tão bem como o nosso bolo-rei", o tal que tem segredo e que os herdeiros de Baltazar Castanheira guardam. Naquele conhecido estabelecimento vende-se diariamente entre 40 e 50 quilos de folar durante a Páscoa. A seguir vem o pão-de-ló, também muito procurado nesta altura. Ali perto, na Suíça, já não há caldeirões de cobre para confeccionar amêndoas como há 30 anos, mas ainda vem muita gente à procura de determinada amêndoa menos habitual ou mais requintada. Sabem que aqui as encontram.

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