Ameaças sobre a Amazónia

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Em bases naturais a Amazónia é o maior complexo florestal e hídrico do planeta, motivo pelo qual sofre intensas e constantes pressões, internas e externas. De tal forma que grupos de pressão internacionais chegaram ao extremo de propor sua internacionalização, ou seja, limitar ou anular as soberanias nacionais amazónicas. Se este absurdo está circunscrito a "balões de ensaio", há evidentes pressões políticas com responsabilidade internacional.

As mais fortes vêm da Europa em dois sentidos.

O primeiro, resulta da presença em países europeus de migrantes sul-americanos indesejados por boa parte dos locais, embora essa presença seja indispensável a suas economias em virtude de natalidade negativa na Europa. A discriminação contra sul-americanos inclui países europeus que exerceram (ou exercem) poder político neste continente e tiveram (ou têm) fluxos emigratórios para aqui. Criticar ou fazer observações estereotipadas sobre o conjunto amazónico é, com frequência, complemento dessa rejeição.

O segundo, vem de poderes políticos que jogam com a popularidade e inquietação sobre as agendas ambientais para manterem outras agendas. Assim, fazem exigências de proteção ecológica e climática reveladoras de complexo de superioridade em matéria de gestão desses dois eixos capitais, apesar de terem uma História recente de destruição florestal e alta poluição do planeta. Exigências usadas, por exemplo, para atrasar ou evitar assinatura de acordos de livre comércio, como o do Mercosul com a União Europeia.

Os indesejados não são só os migrantes mas também os produtos competitivos das indústrias e agriculturas sul-americanas.

Politicamente, a Amazónia compreende nove países de grande potencial, um deles - o Brasil - colocado pelo FMI como nona economia do mundo em PIB e um território francês onde se situa a base aeroespacial de Kourou.

A nível interno as pressões não são menores.

No Brasil - que tem na Amazónia legal mais de 50% do seu território - prossegue o debate em torno da autorização pelo governo à pesquisa petrolífera nas proximidades do litoral, com fortes argumentos de ambos os lados. Debate que só terá solução quando o padrão energético mudar, quer dizer, quando novas ou renováveis energias forem mais abordáveis financeiramente à grande escala.

Apesar de sucessivas ações policiais e até militares, persistem, em vários dos nove países, ameaçadoras atividades de garimpo mineral, tráfico de drogas e desmatamentos ilegais.

Segundo a Prefeitura de Manaus, no passado dia 11 do corrente "a fumaça que voltou a encobrir a capital amazonense (...) tem origem nos municípios da Região Metropolitana de Manaus (RMM), de acordo com dados do programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)", que nos dois dias precedentes assinalou 504 focos de queimadas no total do Estado do Amazonas.

Outra agressão é de origem natural. A seca. Os dois formadores do Amazonas - rios Negro e Solimões - o próprio rio Amazonas e o importante rio Madeira, atingiram níveis baixos record, a ponto de trechos do rio Negro terem ficado sem água e outros, junto com o Solimões, com apenas alguns centímetros de profundidade. O efeito sobre poços artesianos é devastador para as comunidades locais.

Este fenómeno não é novo, é mesmo histórico pois a grande descida nas águas do rio Negro pôs a descoberto pinturas rupestres milenares. Porém, hoje existem métodos para lhe reduzir os efeitos, o primeiro dos quais é não desmatar. A vegetação das margens em grandes extensões tornou-se pouco protetora.

Menos mal, a profundidade no porto de Manaus está na ordem dos 13 metros, permitindo acostagem de cargueiros de tipo clássico com 10 metros de calado e a estação das chuvas anuncia-se normal.

Resistir a esta soma de ameaças não é missão fácil. Sem bom desempenho na totalidade da Amazónia nenhum programa mundial climático é possível e, no conjunto da região vivem milhões de pessoas. Pobres em maioria.

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