Ameaçados pelas demolições do Metro a um mês de ficar sem casa

Com a expansão da linha vermelha até Alcântara o edificado onde está a Casa de Goa vai ser demolido. Seis famílias, inquilinas daquela instituição, não estão na lista de realojados.
Publicado a
Atualizado a

Com a expansão da linha vermelha do Metropolitano de Lisboa as expropriações já começaram. A câmara municipal foi um dos primeiros alvos de expropriação e o edifício onde atualmente está alojada a Casa de Goa, na Calçada do Livramento, em Alcântara será demolido. A autarquia e o Metro já se comprometeram a arranjar um espaço para a Casa de Goa, mas no local onde agora está a instituição, existem seis habitações que estão arrendadas à Casa de Goa e outras seis cujos inquilinos respondem à CML.


Enquanto estes últimos já têm solução para o caso, os arrendatários da Casa de Goa não têm qualquer perspetiva de futuro. "O Metro tem-se descartado sempre, falando que existe um contrato que é precário. Que tínhamos a informação que tínhamos de sair e que essa informação já nos tinha sido comunicada", revela Miguel Vale, um dos inquilinos da Casa de Goa, que está desesperado com a falta de solução habitacional para os moradores que prestavam, até agora, contas àquela instituição.


José Rodrigues, vice-presidente da Casa de Goa demarca-se do problema dos inquilinos. "Há um protocolo existente entre a Casa de Goa e a CML. Esse protocolo prevê que dois meses antes, se a CML necessitar das nossas instalações, denuncia o contrato. Ato imediato: todos os inquilinos que a Casa de Goa tem, por consequência e por força dessa informação da CML, receberam também essa notificação". A primeira data agendada para a saída destas seis famílias era o final de 2023. Entretanto, o prazo foi alargado até 31 de janeiro de 2024, o que não resolve o problema habitacional destes arrendatários. "Daquilo que falo com os meus vizinhos estão todos aflitos com isto. Claro que nós podemos pensar em ir para a casa de familiares. Houve dois vizinhos que pensaram em arrendar uma casa para partilhar. Mas isto são tudo soluções provisórias, para não irmos viver para a rua", desabafa Miguel Vale.


Filipa Roseta, vereadora da habitação da CML, em reunião aberta da autarquia assume: "Os nossos inquilinos vão ficar nossos inquilinos. Os que não são nossos inquilinos, não ficariam de qualquer maneira e têm de continuar, havendo alguma relação com a Casa de Goa, é essa que tem de continuar a estabelecer". Ou seja, a CML demarca-se de arranjar qualquer solução habitacional para os inquilinos da Casa de Goa. Paula Marques, vereadora do município e que se tem debatido por esta questão, discorda desta postura. "Francamente, numa situação destas, em que o processo de expropriação não esteve fechado, em que se negociou todo o processo com os inquilinos da CML, restam seis famílias. O Metro ou a CML poderiam, perfeitamente, acomodar esta situação. São seis famílias. Num processo destes, com o impacto que tem para a cidade, se não se conseguir arranjar solução para seis famílias acho que ficam todos mal na fotografia: o Metropolitano de Lisboa e a CML". Ainda assim, para a vereadora independente, há uma réstia de esperança. "Perguntámos, na reunião da CML, se haveria alguma solução e há uma novidade. A vereadora Filipa Roseta disse-nos que estavam à procura de um espaço equivalente ao que a Casa de Goa tem. Não percebemos se haverá componente habitacional ou não. Certo é que o protocolo que a CML tem com a Casa de Goa, na cedência do espaço, prevê a acomodação de estudantes. Apesar de algumas destas pessoas não corresponderem a este perfil, a Casa de Goa não fez os arrendamentos clandestinamente".

O vice-presidente da Casa de Goa também ignora como e onde será o novo espaço "Não temos ainda qualquer indicação sobre como ou onde será o novo espaço e quando o teremos, apesar de termos de abandonar estas instalações até ao dia 31 de janeiro. Nas conversações que temos tido com a CML solicitámos as seis habitações mas a CML disse logo que era impossível satisfazer esse pedido", afirma José Rodrigues.
Pelo meio, os inquilinos da Casa de Goa tentaram continuar a pagar as rendas, o que não lhes foi admitido. "Não recebemos porque, na altura em que foram feitos os contratos, foram adiantadas cauções que agora foram tidas em conta", explica o vice-presidente daquela instituição, José Rodrigues. Os inquilinos enviaram, também, um email ao Metropolitano de Lisboa, expondo a situação. "O Metro mandou-nos um ofício, também por email, com a informação que já nos tinha sido comunicada de que tínhamos de sair. Entretanto, o prazo foi prolongado até ao final de janeiro, mas isso não é solução. Aqui, ninguém tem para onde ir".


O DN tentou obter uma resposta do Metropolitano de Lisboa, sem sucesso até ao fecho desta edição. Estas famílias não são as únicas em risco de ir para a rua. "Há mais, do outro lado do Vale de Alcântara", conta a vereadora Paula Marques.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt