Cuidar da saúde das pessoas também é cuidar do planeta. Assim, faz parte do trabalho dos profissionais de saúde contribuir para manter o bem-estar dos ecossistemas, especialmente numa altura em que as alterações climáticas têm um impacto cada vez maior na nossa vida..Como consequência do aumento das temperaturas e das emissões de gases poluentes temos assistido ao aumento de doenças cardiovasculares, de doenças respiratórias e de doenças alérgicas como a asma. Também as doenças transmitidas por vetores, como é o caso da malária e do dengue, doenças transmitidas a partir de animais, que são origem de cerca da totalidade de todas as pandemias, e as relacionadas com a qualidade da água, como é o caso da cólera, estão a proliferar..A pressão que estamos a exercer sobre os ecossistemas também tem consequências no campo da saúde mental, sobretudo entre as gerações mais novas. Está a aumentar consideravelmente a incidência de doenças como a depressão, a ansiedade, e aquilo que chamamos de eco-ansiedade, ou seja, o receio do futuro associado a estas alterações que já são presente..Depois, há a questão do impacto ambiental do setor da saúde: globalmente este é responsável por 4,4% das emissões de gás com efeito estufa, sendo que em Portugal o número aumenta para 4,8%. Por exemplo, o consumo de energia elétrica dos sistemas de aquecimento e arrefecimento das unidades hospitalares é responsável por 40% das emissões a nível nacional. Junta-se ainda o impacto do plástico, dos materiais desperdiçados, da produção de medicamentos e dos transportes a montante e a jusante..Dentro da estratégia nacional para enfrentar o problema, a Lei de Bases do Clima, é possível que a nossa comunidade contribua ainda mais para manter o planeta limpo com medidas como a instalação de energia renováveis e de lâmpadas LED, a substituição dos gases anestésicos e a reutilização de plásticos, entre outras..Estas têm sido as principais bandeiras do Conselho Português para a Saúde e Ambiente, do qual sou presidente, uma associação de organizações e profissionais do setor da saúde que quer criar sinergias e dar a conhecer o impacto do ambiente na nossa saúde. Falamos de cidadania ambiental, seja por parte da sociedade civil, seja por parte dos profissionais de saúde, para que todos se tornem agentes na defesa de práticas sustentáveis..A comunidade médica tem então de considerar a emergência climática como uma emergência de saúde publica, pois não se pode querer ser médico de futuro sem assegurar o futuro das populações. Diria mesmo que é uma obrigação médica de todos os profissionais de saúde se envolverem nestas questões, seja na luta contra as alterações climáticas, seja na consciencialização social que pode vir do contacto direto com as populações..O autor do artigo não recebe qualquer honorário para colaborar nesta iniciativa..Esta iniciativa é apoiada pela GSK, sendo os artigos integrados no projeto Ciência e Inovação da responsabilidade dos/as seus/suas autores/as