Altice acusa Anacom por atraso no 5G

Dona do Meo receia que haja problemas com a migração das frequências hoje ocupadas pela TDT que arranca a partir de outubro.
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"Portugal está a perder muito claramente o comboio dos 5G" e a culpa é da Anacom que ainda não revelou calendário nem o modelo para o arranque desta tecnologia no mercado nacional, acusa Alexandre Fonseca, CEO da Altice, num encontro com jornalistas.

Bruxelas determinou 2020 como o ano do lançamento comercial do 5G na Europa. Espanha e Reino Unido já tiveram em julho lançamento comercial, em algumas dezenas de cidades-piloto, na Alemanha e Itália decorreram leilões para as frequências, em Portugal o setor aguarda uma definição. "Portugal, que tem estado sempre na liderança das telecomunicações, está completamente na cauda da Europa" no que toca ao 5G, diz o CEO da dona do Meo. "Ninguém sabe hoje qual o calendário nem o modelo em que vão ser atribuídas as frequências", responsabilidade que cabe ao regulador. "A Anacom é responsável por tudo o que tem que ver com o 5G", frisa o gestor. "Sei que há preocupação da tutela sobre a questão do 5G", diz Alexandre Fonseca, "imagino que seja comum à dos operadores". "Estamos pelo menos seis meses já atrasados para um país com a dimensão de Portugal."

Conhecido apenas é o calendário de migração das faixas dos 700 MHz, atualmente ocupadas pela televisão digital terrestre (TDT). A partir de outubro até 30 de junho de 2020, o regulador quer essas faixas gradualmente libertadas em todo o país para o desenvolvimento do 5G.

A libertação das faixas obriga a que cerca do milhão de portugueses que têm TDT sintonizem os televisores/caixas nas novas frequências para continuarem a ter acesso aos canais de televisão. "Destes, metade não sabem sintonizar uma caixa", diz. "Quem vai atender o telefone a estas pessoas?", questiona. A operadora, que tem a concessão da plataforma da TDT, diz já ter apresentado ao regulador um plano para a migração, com custos associados, cujo valor não adiantou, que passava, por exemplo, pela criação de um call center, mas que ainda não obteve resposta. "O governo tem aqui uma bomba-relógio em mãos chamada Anacom", afirma, acusando o regulador liderado por João Cadete Matos de estar focado em questões relativas aos consumidores, mas que "nos dossiês críticos para o país não tem capacidade para agir".

Fazer a migração dos mais de 200 transmissores TDT pelo país - "é preciso mudar um a um" - vai levar entre "seis e nove meses", diz Alexandre Fonseca, adiantando que a proposta pela Altice de manter uma fase de simulcast, em que a transmissão na frequência antiga (700Mhz) e a nova (multidirecional) da TDT se mantêm em simultâneo num determinado período de tempo, foi rejeitada pela Anacom.

Valores de eventual leilão

O modelo ainda não é conhecido, mas o leilão tem sido a opção para a atribuição de frequências. Na última licença para o 4G, o Estado teve um encaixe de 372 milhões de euros. Valores que fazem sentido nesta nova fase? "Tem de haver sensibilidade para não matar a galinha dos ovos de ouro", diz Alexandre Fonseca, frisando que a monetização do 5G não é clara nem imediata. "Algum cliente está disposto a pagar mais dez euros para ter 5G?", questiona.

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