Alterações Climáticas: Os 7 pecados mortais - Roteiro para evitar uma morte anunciada
A boa notícia é que parece que a sociedade está cada vez mais consciente dos impactos adversos da ação humana nas alterações climáticas. Isso determina mudança de comportamentos e a definição de metas rigorosas e ambiciosas de forma que ainda se possam reverter, a médio prazo, o impacto das ações hostis e de forma a promover uma economia competitiva, circular, resiliente, neutra em carbono e uma melhor qualidade de vida para todos.
A má notícia, é que para que tal aconteça é preciso atuar sobre 7 eixos estratégicos sob pena de entrarmos por um caminho de não retorno. Tal como os 7 Pecados Capitais (avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba), que levam muitas vezes a um fim trágico, existem também os 7 "pecados virtuosos" que as economias e sociedades devem promover de forma positiva, coerente e duradoura.
Em primeiro lugar, olhar para a "Produção e o Consumo". A sustentabilidade da indústria do futuro está grandemente relacionada com o progresso da economia circular. Ciente disso, as economias têm de apostar no desenvolvimento de projetos de Investigação, Desenvolvimento e Inovação. Só assim podem resultar um conjunto diversificado de serviços que permitem apoiar as organizações na implementação das várias estratégias e modelos de economia circular, particularmente focados na produção e utilização inteligente dos recursos.
Em segundo lugar, olhar para as "Cidades e os Edifícios". Nos últimos anos, a sociedade tem valorizado de forma mais significativa a sustentabilidade das suas cidades e a sua relação com os edifícios. As "Smart Cities" abrangem mais do que a mobilidade, as plataformas digitais ou a sustentabilidade. O objetivo fundamental de uma "Smart City" é a incorporação e desenvolvimento dos 19 indicadores dos objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS) promovidos pelas Nações Unidas e que visam o desempenho dos serviços da cidade e a qualidade de vida dos cidadãos. No que respeita aos edifícios, o bem-estar e a sustentabilidade são preocupações incorporadas desde a fase de projeto até ao seu final de vida.
Em terceiro lugar a "Indústria, Comércio e Serviços". O interesse de investidores internacionais, que tem aumentado nos últimos anos, trouxe para a ribalta a realização de Due Diligences ambiental em processos de transações imobiliárias (private equity) e a caracterização do passivo ambiental. Tal é o caso da avaliação da contaminação em solos e águas subterrâneas, bem como da realização de diagnósticos de circularidade dos processos. Isto acontece porque estes investidores são sensíveis aos objetivos de desenvolvimento sustentável.
Em quarto lugar, assumir verdadeiramente o tão proclamado "ESG". O desenvolvimento sustentável é uma preocupação global e urgente e as empresas têm de o adotar como um dos seus pilares trabalhando diariamente para promover uma mudança de consciência empresarial e social através dos seus serviços e inovações.
Em quinto lugar, o "Ambiente". Numa altura em que grandes projetos estão em fase de desenvolvimentos e/ou implementação quer associados ao plano de recuperação e resiliência quer a outro tipo de financiamentos, é preciso apoiar os promotores na identificação de grandes condicionantes que no futuro possam inviabilizar a implementação dum projeto, quer por constrangimentos legais e administrativos, quer por incompatibilidade com instrumentos de gestão territorial, perímetros urbanos, biodiversidade, património arqueológico, recursos hídricos e paisagísticos. A identificação dos roteiros para obtenção de autorizações e licenças, o apoio nos processos de licenciamentos municipal, industrial e ambiental e a realização de estudos técnicos nos regimes ambientais são fundamentais para o sucesso dos processos de legalização dos projetos.
Em sexto lugar, as "Finanças Sustentáveis". As finanças sustentáveis referem-se à incorporação de considerações ambientais, sociais e de governação (ESG) nos processos de tomada de decisão na realização de investimentos pelo setor financeiro. Têm por objetivo apoiar o crescimento económico, reduzindo simultaneamente as pressões sobre o ambiente, através do cumprimento das políticas e objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS). Este tema foi alias o tema escolhido pelo encontro anual das três COTEC (Associação para a Inovação), de Portugal, Espanha e Itália e que sob o Alto Patrocínio do Presidente da República de Itália, Sergio Mattarella, do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa e do Rei de Espanha, Filipe VI, reuniu em Palermo muitos dos decisores políticos e banqueiros e onde se apelou a uma nova taxonomia universal para prevenir o green washing.
Em sétimo lugar, a "Descarbonização". Atualmente, acelerar a transição para uma economia de baixo carbono, é um desafio central e prioritário nomeadamente da União Europeia. A transição para uma economia de baixo carbono e a sua efetiva implementação na sociedade constitui, portanto, uma oportunidade de negócio e de geração de emprego, assente em tecnologias inovadoras, novas práticas e igualmente em novos modelos de negócio. A investigação e desenvolvimento desempenham um papel importante nesta transição, através do alargamento das opções tecnológicas, bem como para encontrar formas para diminuir os seus custos de investimento e desta forma potenciar a sua adoção na economia.
Assim, ou perseguimos nos sete pecados mortais rumo ao abismo, ou apostamos em sete eixos estratégicos de desenvolvimento sustentável da humanidade.
A terminar uma palavra da maior importância. Se é tudo isto e ainda mais aquilo que vai ser exigido às empresas, vemos que em muitos casos até as grandes empresas vão ter algumas dificuldades em definir e implementar todos estes parâmetros e ao mesmo tempo serem modernas, inovadoras e competitivas. Agora, imagine-se, o que não será aplicar exigências e metodologias destas em micro, pequenas e até nas médias empresas. Em Portugal, como sabemos, 99% do tecido empresarial são PME, logo o que aí vem vai ser de uma exigência brutal para todos, mas não há outro caminho.
Presidente do ISQ