Alta tensão no Brasil em dia de manifestações pró-Bolsonaro
O Brasil celebra, esta terça-feira, o feriado do 199º aniversário da independência do país num contexto de alta tensão com manifestações convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro e pelos seus opositores.
As cidades São Paulo e Brasília, foram mobilizadas para a proteção de edifícios públicos durante as manifestações dos apoiantes radicais de Bolsonaro.
Na Brasília, que está protegida por cerca de 5 mil polícias, centenas de manifestantes concentram-se desde segunda-feira à noite. Nas últimas horas, "após pressão dos manifestantes" os efetivos da Polícia Militar afastaram as barreiras permitindo que os veículos se aproximassem do edifício do Supremo Tribunal Federal, no centro da capital brasileira.
"Acabámos de invadir! A polícia não conseguiu conter o povo! E amanhã vamos invadir o STF", gritava um dos manifestantes, em vídeo divulgado nas redes sociais.
Apesar de afirmarem que o objetivo das marchas é defender a liberdade, muitos dos apoiadores de Bolsonaro, que se organizaram através das redes sociais, planeiam usar 'palavras de ordem' a favor de ataques às instituições democráticas. Alguns pedem, inclusive, uma "intervenção militar" liderada por Bolsonaro.
O rumo das mobilizações é incerto e monopolizou o debate público no Brasil, com alertas para evitar algo semelhante à invasão do Capitólio dos Estados Unidos em janeiro por partidários do republicano Donald Trump.
Mais de 150 intelectuais e figuras políticas de 26 países, incluindo o ex-primeiro-ministro espanhol José Luis Rodríguez Zapatero e o filósofo americano Noam Chomsky, assinaram uma carta aberta esta segunda-feira denunciando uma ameaça iminente à democracia brasileira.
O dia vai começar com a cerimónia oficial do hasteamento da bandeira às 9:00 (horário de Brasília) no Palácio do Alvorada.
Bolsonaro confirmou nos últimos dias que os protestos serão um ultimato aos magistrados da mais alta corte. Nas últimas semanas, o Presidente brasileiro provocou instabilidade institucional ao fazer duras críticas à Justiça, que o investiga por supostas irregularidades no combate à pandemia de covid-19 e por difundir notícias falsas sobre a transparência e fiabilidade do sistema eleitoral brasileiro.
O ex-paraquedista anunciou sua presença pela manhã na Brasília e à tarde em São Paulo, onde espera reunir "milhões" de pessoas na Avenida Paulista.
A três quilómetros do local, no Vale do Anhangabaú, está agendada a principal manifestação da oposição sob o lema "Fora Bolsonaro".
Para Geraldo Monteiro, cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o presidente está a apostar "tudo ou nada" depois de ter "esticado a corda" ao máximo com os seus ataques ao sistema eleitoral, ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso.
Segundo Geraldo, este dia de mobilização pode "ser um divisor de águas". "Se as manifestações forem importantes, significativas, acho que vai de certa maneira pesar a balança a favor do presidente" para as eleições de 2022, nas quais, segundo as pesquisas, seria amplamente derrotado pelo ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, que ainda não confirmou a sua candidatura.
Mas no caso de um fracasso, "pode entrar numa curva descendente para o bolsonarismo" e o presidente corre o risco de perder aliados, especialmente no setor empresarial.
Para reforçar o receio pela segurança nacional dos especialistas está a possível presença de polícias armados entre os manifestantes, classe que apoia amplamente o presidente.
Segundo o levantamento divulgado este domingo pelo jornal O Globo, 30% dos polícias têm a intenção de sair às ruas nesta terça-feira, embora a legislação os impeça de participar em manifestações políticas, mesmo em dias de folga.
Bolsonaro criticou abertamente na semana passada os juízes e governadores que anunciaram medidas para impedir a participação de polícias nas manifestações.