Alt-J: "Continuamos a ver-nos apenas como uma banda folk"

A banda britânica está de regresso, para um concerto aguardado pelos fãs. E pela banda.
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Depois de terem sido um dos nomes em destaque na edição do ano passado do Nos Alive, o grupo britânico está de volta para apresentar o último disco Relaxer, num regresso que também é uma estreia, por ser a primeira atuação em nome próprio em Portugal. É o terceiro registo de originais, foi lançado o ano passado e marca mais uma viragem na sonoridade dos Alt-J, agora ainda mais experimental. Um concerto há muito aguardado pelos fãs e pela própria banda, como revela ao DN o teclista Gus Unger-Hamilton.

Estão de regresso apenas seis meses depois da vossa última passagem por Portugal, no festival Nos Alive. Que diferenças vai haver entre um concerto e outro?

Há uma grande diferença entre tocar num festival, onde somos apenas mais um nome no alinhamento e nem toda a gente está lá para nos ver, e apresentarmo-nos em nome próprio, como vai acontecer desta vez. Gostamos muito de tocar em festivais, mas é sempre mais especial quando atuamos só para os nossos fãs. Vamos apresentar mais algumas canções do novo álbum e recuperar algumas mais antigas, daquelas que já não tocamos há muito tempo. Estamos muito ansiosos com este concerto, porque apesar de já aí termos tocado por diversas vezes em festivais, vai a primeira vez em nome próprio em Portugal, onde sempre tivemos fãs muito fieis.

O novo disco, Relaxer, eleva ainda mais a fasquia da vossa já de si pouco convencional sonoridade, acrescentando mais uma série de camadas, seja através da produção mas também com orquestrações mais clássicas. Como é que isto é depois transposto para um espetáculo ao vivo?

É por isso que temos boas luzes e bons vídeos nos nossos espetáculos, para que as pessoas se distraiam e não reparem nisso (risos). Estou a brincar, mas a verdade é que, quando fazemos um disco, não estamos propriamente a pensar nisso, até porque é muito complicado replicar em palco tudo aquilo que criamos em estúdio. Por isso, optámos por tocar apenas aquelas que sabemos que funcionam ao vivo.

Toda a crítica foi unanime em classificar Relaxer como o trabalho mais experimental dos Alt-J, mas também acaba por ser um dos mais diversificado em termos de estilos e ambientes musicais, concorda?

Se há algo que nos distingue enquanto banda é o facto de nunca assumirmos uma sonoridade ou um estilo específico, até porque nem sei bem o que é isso dos estilos musicais. Mas reconheço que sim, que será talvez o nosso álbum mais experimental, mas apenas por ser o mais diversificado e, de certa forma, talvez até o mais honesto de todos.

Porque diz isso?

Porque não houve qualquer intenção de o fazer. Talvez tenhamos descoberto, isso sim, novas maneiras de trabalhar. No final do dia, éramos só a nós a experimentar coisas novas. Isso acabou não só por ser muito divertido, mas também por nos levar para outros caminhos, onde nunca tínhamos andado. Mas há todo um percurso que nos trouxe até aqui, não existe propriamente um corte com o passado.

Com tantos elementos e camadas na vossa música, como e quando decidem que uma canção está finalmente pronta?

Quando finalmente a gravamos. E a palavra final é sempre do nosso produtor, o Charlie, é ele que decide se ainda falta acrescentar algo ou se deixa ficar como está.

Este é já o terceiro disco em que trabalham com o produtor Charlie Andrew

Tivemos a sorte de encontrar o Charlie numa fase muito inicial da nossa carreira. Foi com ele que gravámos a nossas primeiras demos e temo-nos mantido fiéis a ele. A relação entre uma banda e o produtor nem sempre é fácil, mas neste caso tem funcionado na perfeição, porque nos conhecemos muito bem e o modo como cada um trabalha. Não sabemos se vamos trabalhar com ele para o resto da nossa vida, mas também não vejo nenhuma razão para não continuarmos a fazê-lo.

Além da participação da London Metropolitan Orchestra, há também um coro e um órgão de igreja, gravado na catedral de Ely. Porquê essa opção por soluções, digamos, mais clássicas?

Foi uma decisão que teve a ver com a nossa música, que é bastante visual, cinematográfica, até A dada altura sentimos que as canções pediam-nos mais qualquer coisa e surgiu esta oportunidade de convidar a London Metropolitan Orchestra. Gravámos nos lendários estúdios de Abbey Road, o que foi todo um acontecimento para nós. Acabaram por tocar em seis dos oito temas, o que acabou por tornar o álbum muito mais grandioso, em termos musicais e de produção.

Ao contrário do que acontece, por exemplo, na original versão que fazem do clássico House of the Rising Sun, bastante intimista, mas também tão diferente do original, até na letra, em parte criada por vocês. Porque decidiram fazê-lo?

É uma canção que costumamos tocar entre nós, quase desde o início da banda. Começou como uma brincadeira em estúdio, mas depois evoluiu para uma bela peça musical, que sem dúvida merecia entrar no álbum. É também uma brincadeira, porque na verdade continuamos a ver-nos apenas como uma banda folk e pareceu-nos engraçado tentar fazer uma versão da canção folk mais famosa de sempre.

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