Alonso é o Rei Midas da Fórmula 1
Os espanhóis gostam muito de ganhar. Querem ser os melhores do mundo. Seja em natação sincronizada, na elaboração da maior tortilha da história, ou em campeonatos de Fórmula 1. Os jornais e as televisões parecem, por vezes, mais fixados na certeza de uma vitória (antes de tempo) do que na análise daquilo que realmente se passa.
Mas a verdade é que acertam com frequência, como aconteceu com o Campeonato do Mundo de basquetebol, com os títulos europeus do Sevilha e Barcelona, com os êxitos do tenista Nadal e, claro, com o prodígio automobilístico Fernando Alonso - outro fanático das vitórias, embora mais contido se comparado com a imagem ruidosa que têm os seus compatriotas no exterior. Numa entrevista, o piloto disse: "Gosto de ganhar tudo. Quando perco, não me divirto nada."
Este domingo, no circuito de Montmeló, Barcelona recebe a quarta prova da temporada, os espanhóis querem o primeiro lugar do seu pi-loto, mas também esperam bater o recorde de assistência num gran- de prémio. Na última temporada, só a prova japonesa conseguiu mais espectadores. Este ano foram construídos oito mil lugares extras em Montmeló. E os 148 mil bilhetes já vendidos - muito mais que os 30 mil de há 15 anos - devem-se ao sucesso de Fernando Alonso.
Com os seus dois títulos mundiais consecutivos, o piloto das Astúrias, criou o fenómeno alonsomania, que, além de encher bancadas e ruas, aumentou a visibilidade e facturação de muitas marcas. Alonso, o atleta espanhol mais bem pago de sempre, dá muito dinheiro a ganhar.
Os primeiros milhões
No temporada do seu primeiro título, quando corria pela Renault, a marca vendeu mais 15 mil modelos Mégane em Espanha que no ano anterior. Um jogo de Fórmula 1 para a PlayStation passou de oito mil unidades vendidas ao ano para 200 mil.
A Guru, uma marca de roupa espanhola, aumentou os seus lucros para 20 milhões de euros. E os relógios Sandoz, que investiram um milhão para aparecerem no fato-macaco do piloto, duplicaram a facturação, deixando de ser apenas uma empresa espanhola para se transformarem numa marca internacional.
Com a retirada de Michael Shumacher, Alonso passou a ser a cara mais procurada, e a sua fortuna disparou. Recebe 23 milhões de euros da McLaren-Mercedes e mais dez em contratos publicitários. A Vodafone abandonou a Ferrari e assinou um contrato de dez anos com a equipa inglesa. Duas das maiores empresas de Espanha, a seguradora Mutua Madrileña e o Banco Santander, passaram da Renault para a McLaren. Johnnie Walker, Hugo Boss, Mobill, Tag Hueur, Nescafé ou FedEx estão também entre os patrocinadores. Dos 400 milhões de euros de orçamento da equipa para este ano, um terço deve-se aos patrocinadores, muitos deles espanhóis, que o piloto trouxe para a equipa.
O canal Tele5 deve em parte a sua liderança nas audiências ao exclusivo das transmissões de Fórmula 1. Quando Alonso ganhou o seu primeiro título mundial, no Brasil, em 2005, mais de 12 milhões de espectadores, em Espanha, estavam diante do ecrã. Quando recebeu o prestigiado Prémio Príncipe de Astúrias, em 2005, 20 mil pessoas saíram para as ruas de Oviedo, onde nasceu o piloto.
Segundo os especialistas de Fórmula 1, Alonso tem como grande atributo a sua frieza. Numa entrevista ao El País, corroborou a análise: "Quero fazer tudo bem para dar satisfa-ção a todos. No entanto, não devo deixar-me levar pelas emoções. Há que ser frio." O seu desprendimento nota-se na forma como blindou a vi- da pessoal à histeria da imprensa cor-de-rosa. Ainda hoje, não se sabe se casou com Raquel del Rosario, cantora da banda Sueño de Morfeo, ou se são apenas namorados. Ele não responde. O desconforto com as perseguições dos paparazzi levou-o a dizer que não estava mais tempo em Espanha por causa do cerco da imprensa: "Dói não poder dar um bei-jo à pessoa de quem se gosta em público."
Há quem o chame de arrogante. Mas Alonso parece precocemente assertivo e sensato para quem, aos 25 anos, é milionário, duplamente campeão do mundo, e dá entrevistas à Vogue no Billionaire Club, exclusivo clube na Sardenha. Para a maioria dos espanhóis, depois de Zapatero e Penélope Cruz, Fernando Alonso continua a ser a personalidade com quem mais gostariam de jantar.
Um Palmarés recheado em cinco anos de Fórmula 1
Uma vontade férrea de vencer e uma grande disciplina: os segredos de Alonso no paddock.
2OO3 na Hungria, tornou-se, aos 23 anos, no mais jovem piloto de sempre a ganhar um grande prémio.
24 anos era a idade do piloto quando somou o primeiro título na F1. Foi o mais jovem de sempre a consegui-lo.
687 voltas como líder em grandes prémios. Na sua carreira terminou 66 corridas, ou seja, 74% das que disputou.
15 vitórias em grandes prémios. Já obteve o segundo lugar por 14 vezes e o terceiro lugar em oito ocasiões.