Alojamento local pelo Airbnb rendeu 43 milhões de euros
O número de hóspedes recebido no alojamento local em Lisboa, através da plataforma Airbnb, duplicou no ano passado. Em 2015, instalaram-se na capital portuguesa, em regime de aluguer de curta duração, 433 mil hóspedes. No ano anterior tinham sido 213 mil.
De acordo com um relatório ontem divulgado pela empresa, o quase meio milhão de hóspedes rendeu aos proprietários das casas 42,8 milhões de euros. O rendimento médio de um anfitrião da Airbnb (na prática um site onde podem ser disponibilizadas as casas para alugar, e onde pode ser feita também a reserva) é de 530 euros mensais - o valor do salário mínimo nacional.
Nas estimativas da Airbnb, o retorno económico para a cidade terá ascendido, em 2015, aos 268 milhões de euros - além dos 42 milhões pagos aos proprietários, terão sido gastos 225 milhões no comércio e serviços locais. À cabeça surgem os restaurantes (37%), seguindo-se as compras (21%), o entretenimento (15%), os transportes (13%) e as compras no supermercado (12%).
Os números de Lisboa ontem apresentados pela Airbnb contrastam com o todo nacional, traduzindo o boom turístico a que se assiste na capital. Considerando todo o país, o rendimento mensal médio dos proprietários que colocaram um imóvel no Airbnb é de 290 euros, bastante abaixo da média em Lisboa.
O número de dias em que a casa está ocupada por hóspedes também é inferior - 68 no país, 76 em Lisboa.
No caso da capital, a duração média da hospedagem é de 4,1 noites - superior à dos hotéis, onde a estada ronda, por norma, as duas noites.
Um fenómeno em crescimento
O alojamento turístico, em visível crescimento na capital, tem sido apontado como um dos principais fatores a contribuir para a subida das rendas e para a diminuição do número de casas disponíveis no mercado tradicional de arrendamento. De acordo com números da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), o número de casas para arrendar caiu mais de 30% nos últimos anos, um fenómeno que se faz sentir sobretudo em Lisboa e no Porto. Ao decréscimo no número de casas tem correspondido uma subida do valor das rendas.
Em sentido contrário, os números do alojamento local têm vindo a aumentar: atualmente há cerca de cinco mil imóveis registados para estadas de curta duração. E este número não reflete necessariamente a realidade do alojamento local.
Ontem, em entrevista à Antena1, a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, admitiu que o arrendamento de casas a turistas é um setor onde existe grande fuga aos impostos. A governante anunciou, aliás, uma parceria com a Airbnb, para acabar com casos de arrendamento ilegal. Outra área onde o governo se prepara para intervir é no plano fiscal, dado que o aluguer de curta duração tem atualmente um tratamento fiscal mais favorável do que o arrendamento permanente: neste último caso os proprietários pagam uma taxa de 28% sobre o total dos rendimentos. No aluguer de curta duração a taxa incide apenas sobre uma fatia de 15%.
A uniformização do regime fiscal tem sido uma das reivindicações da Associação dos Inquilinos Lisbonenses (AIL), que defende também limitações ao alojamento local. "Se o governo e a câmara não estão a perceber o que aconteceu noutras cidades, como Barcelona, daqui a algum tempo vamos ter problemas sérios de sustentabilidade", diz o presidente da AIL, Romão Lavadinho, acrescentando que este fenómeno pode empurrar para a periferia sobretudo a população mais jovem. "Não conseguem suportar nem a compra nem o arrendamento", aponta. A AIL reclama que, nos prédios onde há arrendamento permanente, não possa coexistir o aluguer de curta duração a turistas.