Almodóvar favorito na corrida à Palma de Ouro
Se a Palma de Ouro fosse atribuída a partir das votações dos quadros de estrelas dos críticos, publicados nas revistas da especialidade que saem todos os dias durante o festival, este ano ela ia direitinha para Volver, de Pedro Almodóvar. A comédia dramática do realizador espanhol sobre o regresso de uma mulher às suas raízes, e a aparição da sua mãe--fantasma, é consensualmente apontada como favorita ao prémio máximo do 59º Festival de Cannes , que encerra hoje, ao fim da tarde.
Se Almodóvar ganhar, a Palma distinguirá um dos dois melhores filme da competição - a par com Les Climats, do turco Nuri Bilge Ceylan, que descreve a separação de um casal e a sua impossível reconciliação , e consagrará um cineasta que já foi premiado em Cannes (Melhor Realizador, em 1999, por Tudo Sobre a Minha Mãe) e teve honras de abertura do festival (em 2004, com Má Educação). Mas se o júri tiver outras ideias e quiser negar de novo a Palma de Ouro a Almodóvar, como sucedeu com o júri de 1999 (ganhou Rosetta, dos irmãos Dardenne), tem mais opções, além de Les Climats.
Os rumores que começam a correr pela Croisette, à medida que o festival vai chegando ao fim, referem, alternativamente, Babel, do mexicano Alejandro González Iñárritu, cujas histórias de sofrimento que unem o Primeiro e o Terceiro mundo têm a mais-valia de uma mensagem sobre os estragos causados pela globalização e o clima de medo geral pós-11 de Setembro; ou The Wind that Shakes the Barley, de Ken Loach, sobre o conflito fratricida da Irlanda nos anos 20. Il Caimano, onde Nanni Moretti fala da Itália de hoje, das relações familiares e do estado do cinema italiano, como meio para chegar a (e em) Silvio Berlusconi, não parece poder aspirar a grandes voos na premiação.
Um filme a ter em atenção é Indigénes, de Rachid Bouchareb, um dos quatro títulos "caseiros" da competição, que recorda as tropas africanas que se bateram sob comando francês na II Guerra Mundial. E há quem jure a pés juntos que o frívolo e muito vaiado Marie Antoinette, de Sofia Coppola, tem fortes hipóteses de ganhar a Palma de Ouro. A acontecer, não seria uma surpresa. Seria um escândalo de escala 10.
Actrizes e actores
O júri pode querer premiar igualmente o desigual Summer Palace, de Lou Ye, para marcar uma posição política. A fita esteve na mira da censura estatal chinesa durante todo o festival , por recriar os acontecimentos de Tiananmen, e deverá não ser estreada e o realizador proibido de trabalhar durante algum tempo. Um modo de o fazer seria distinguir a actriz Hao Lei com o prémio de Interpretação Feminina. Só que Lei tem a fortíssima concorrência de Penélope Cruz em Volver, seguida pela britânica Kate Dickie, no banal Red Road, de Andrea Arnold, e pela turca Ebru Ceylan, mulher do realizador de Les Climats.
Este ano, a competição não teve um filme que enchesse as medidas ou que fosse sísmico o suficiente para se transformar "no" tema de conversa do festival . E foi preciso chegar ao penúltimo dia para que surgisse o mais claro candidato ao prémio de Interpretação Masculina, na pessoa de Gérard Depardieu, com o seu cantor de baile cinquentão de Quand J' Étais Chanteur, de Xavier Giannoli. Seria merecidíssimo, e era uma vitória com música.
Se a Palma de Ouro for para o frívolo 'Marie Antoinette', de Sofia Coppola, a decisão do júri será vista como um escândalo
Promessas para Veneza
Marco Muller, director do Festival de Veneza, que se desenrola no princípio de Setembro, aproveitou a sua vinda a Cannes para sugerir que a Mostra deste ano vai dar que falar. Entre os filmes confirmados contam-se The Fountain, de Darren Aronofski; Still Life, de Jia Zhang Ke; A Good Year, de Ridley Scott; ou The Queen, de Stephen Frears. World Trade Center, de Oliver Stone, do qual se viram os primeiros 20 minutos em Cannes , deverá estar também em Veneza, tal como o policial de Brian De Palma The Black Dahlia (que terá sido recusado aqui este ano) e INLAND EMPIRE, de David Lynch. No Lido poderão ainda comparecer os novos filmes de Robert De Niro, Paul Verhoeven, Hirokazu Kore-eda, Jean-Marie Straub, Neil LaBute e Roger Michell. E também o documentário Maradona, de Emir Kusturica; Scoop, de Woody Allen; e Flags of Our Fathers, de Clint Eastwood...